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No Oitavo Conclave da Federação das Acade­mias Brasileiras de Medicina, realizado em Curitiba, em maio do ano dois mil, apresentei uma comunicação intitulada. Neologismos de interesse médico, a qual foi aprovada e premiada. Dei início ao texto da mesma dizendo, como conceito de neologismo, o seguinte: "Palavra ou expressão nova introduzida num idioma para satisfazer a nominação de um fato de ordem científica ou tecnológica, como artística ou popular. O neologismo obedece tanto a uma necessidade linguística como a um caráter cultural". É o caráter cultural (e mesmo estranho) de alguns dos neologismos apresentados que motiva o interesse desta crônica, com a qual penso satisfazer os curiosos da linguística e dos mistérios da vida.

Acrescento, ainda, que, em ciência, os neologismos, para terem valia e elegância, utilizam radicais gregos para sua formação.

Quirognosia (de kheir, mão e gnosis, conhecimento). A possibilidade de uma pessoa curiosa conhecer os atributos de outra, através da mão. Do aperto de mãos. Aperto que deve ser tão prolongado quanto necessário, a fim de fornecer as seguintes indicações: temperatura, potência, ritmo, durabilidade, textura, umidade. Este conjunto de informações pode ser suficiente para revelar a personalidade da outra pessoa. O que será de utilidade em muitos casos, sem insistir em seu valor médico.

Nictofilia (de nyktos, noite e philia amizade). Atração de certas pessoas pelo período da noite para o desenvolvimento de suas atividades.

O organismo humano está, imperiosamente, coadunado com as fazes do nictêmero através do seu sistema nervoso autônomo. O "simpático", com as atividades do dia; o "parassimpático" ou vago, com o repouso noite. Pessoas há, entretanto, que invertem essa binominal harmonia. Trocam, como se diz, o dia pela noite e vão pela noite a dentro. Isto porque são vagotônicas, é o parassimpático ou vago que as estimula.

Tem isso alguma importância?

Sim. Preliminarmente, como exemplo de uma das regras universais com suas exceções. Também, por que são a condição constitucional das pessoas sujeitas às doenças alérgicas.

O vagotônico é reconhecido pela umidade de suas mãos.

Hipnocinésia (de hypnos, sono e kinesis, movimento).

O sono provocado pelo movimento.

Um conceituado médico, que trabalhava num hospital de hansenianos, era levado, diariamente, de automóvel, ao local de trabalho.

Não tardava que, posto o carro em movimento, o esculapio conciliava o sono. Eis um exemplo característico de hipnocinésia.

O que preside um tal acontecimento? Não conheço estudo que tenha procurado explicá-lo. Sem dúvida trata-se de uma forma de cinetose (a doença do movimento) tão bem observada nos viajantes marítimos.

A meu ver, a mudança contínua de posições excita o sistema nervoso autônomo, e, especialmente nos vagotônicos, ativa o parassimpático, que é o indutor do sono. As boas mãesinhas, sem cogitarem de causas ou efeitos, balançam seus filhotes, nos seus braços, para que durmam.

Se penetrarmos nos mecanismos neurofisiológicos do sono, daremos razão ao filosofo grego que afirmou ser "o sono, o irmão da morte".

Cosmoestesia (de kosmos, universo e aisthesis, sensibilidade).

Uma especial sensibilidade fisiológica causada pelos fenômenos atmosféricos. Em alguns casos, uma nítida condição mórbida.

A menção mais antiga (e literária) da cosmoestesia é a dor, no grande artelho dos gotosos, que precede as tempestades. Hoje, o assunto está mais amplamente conceituado, admitindo-se, como forma mais simples do fenômeno, a denominada "neurose barométrica," o mal-estar nervoso que precede os temporais. Certamente pelas alterações atmosféricas instaladas: queda da pressão, também da umidade do ar, aumento da temperatura ambiente e da eletricidade do ar.

No aquário de sua casa, um curioso observador constatou, na precedência do grande temporal que se aproximava, a inquietude da pequenina fauna que o compunha, mostrando que o fenômeno é verdadeiramente cósmico.

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