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Minha rua tem uma santa. Encontro-a todos os dias, ao sair de manhã para o trabalho, ao passear com meu cãozinho vira-lata, ao rezar junto com meu filho na igreja vizinha. Vejo Madre Leônia quando vou à padaria, quando faço uma caminhada com a Rosângela, quando o sol se levanta. A santa da minha rua está no silêncio das madrugadas, no caminho dos notívagos que voltam para casa, no rastro dos automóveis que não sei (e nunca saberei) dirigir. Assim que abro a janela de casa e olho para a avenida que leva seu nome, penso: Bom dia, Madre Leônia!

Ter uma santa na rua de casa é grande responsabilidade, principalmente para um pecador como eu. A vida de Madre Leônia comprova que a santidade está sempre muito perto; nós é que não somos dignos de abraçá-la.

Sei que ainda não é recomendável chamar Madre Leônia de santa. Na verdade, oficialmente ela ainda nem é beata. Mas peço aqui a licença poética de me referir à santidade em um sentido mais amplo, aquele que usamos ao dizer que um amigo, um ente querido ou personagem literário é santo.

A propósito, de onde surgiu aquela moça, quase menina, que apareceu ao lado do rapaz desenganado pelos médicos? Quando o paciente inexplicavelmente acordou de seu coma profundo, perguntou quem era a moça que segurava seu braço e pedia para ele voltar.

De quem era a relíquia colocada sobre o peito do homem que levou um tiro no coração? Por que o coração desse homem continuou insistindo em bater, quando em casos semelhantes a morte é instantânea?

A moça era a santa da minha rua. A relíquia era de Madre Leônia Milito. Mas esses casos extraordinários, ao contrário do que parece, não são o que existe de mais surpreendente no fenômeno da santidade. Muito mais miraculosa é a presença viva dos santos na vida cotidiana de cada pessoa. O maior milagre de um santo é a fé que ele desperta em nós.

Nosso mundo é constantemente ferido por falsas santidades: o revolucionário dos paredões, a militante feminista que se curvou a Stalin, o funkeiro que faz apologia do crime, o dramaturgo que fazia proselitismo comunista. Mas o merchandising do mal jamais conseguirá suplantar a força dos santos de verdade. Minha esperança – e a de muita gente – é que Madre Leônia não seja apenas a santa de nossa rua ou nossa cidade, mas do mundo inteiro – a exemplo da congregação que nasceu pequena em Londrina e hoje se espalha pelos cinco continentes.

(Dedico esta crônica ao jornalista e professor Rodrigo Manzano, 1977-2013)

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