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Padre Pio de Pietrelcina confessava-se no mínimo a cada sete dias. Se até um santo homem como ele tinha arrependimentos semanais, o que dizer de um miserável pecador como este cronista?

Arrependo-me diariamente de várias palavras, atos, pensamentos e omissões. Às vezes, o arrependimento se refere a algo que aconteceu há muitos anos. Querem um exemplo? Lamento ter invadido a Reitoria da Universidade de Londrina em meados de 1990. Esse fato me veio à mente alguns dias atrás, quando vi as imagens da destruição provocada pelos invasores da Reitoria da USP.

Devo ressaltar, porém, que éramos invasores bem civilizados. Vinte e três anos se passaram, mas eu me lembro do cuidado que tínhamos em evitar qualquer tipo de depredação ou dano ao patrimônio público. Logo no primeiro dia da invasão, flagramos um companheiro mexendo na fechadura de uma sala; ele foi duramente advertido e quase expulso do movimento. À noite, tocávamos canções de Caetano e Djavan ao luar. Minha maior ousadia foi dormir (sozinho) em uma colchonete na Sala do Conselho Universitário.

Destruição, sujeira e vandalismo eram coisas de "fascista" (o pior xingamento da época). Nunca nos passaria pela cabeça esconder o rosto ou usar coquetel molotov durante manifestações. Escrevíamos slogans e mensagens revolucionárias? Claro que sim! Mas para isso usávamos folhas de papel kraft cuidadosamente coladas com fita crepe nas paredes. Um estudante de Arquitetura, com dotes artísticos, fez um belo desenho utilizando canetas Pilot de várias cores. Lembro-me que escrevi uns versos de Drummond ao lado da imagem. Ou seria uma canção de Cartola?

Sim, eram tempos inocentes: fomos inocentes úteis ao participar daquela invasão, que só serviu para consolidar o poder da esquerda na administração universitária. Éramos umas bestas, mas bestas cheias de boas intenções.

O maior arrependimento que carrego é ter acreditado que a revolução socialista poderia conduzir ao paraíso na Terra. Na verdade, como aprendi duramente nos livros e no cotidiano da militância esquerdista, o mundo que sonhávamos não passava de um inferno dentro do pesadelo.

Essa tomada de consciência não foi repentina: veio aos poucos, em diferentes momentos da vida. Hoje, não sei por quê, veio à lembrança o julgamento sumário de um amigo jornalista e escritor, homem íntegro e talentoso, cujo único erro foi não corresponder ao nosso programa de lutas sindicais. Felizmente tive a chance de pedir perdão a ele, muitos anos depois.

Espero que meu filho não tenha de passar pelos mesmos erros e arrependimentos. Rogai por nós, Padre Pio.

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