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Dias atrás recebi pelo correio mais um livro do amigo, escritor, poeta e jornalista Nilson Monteiro. É sempre uma alegria quando isso acontece, e acontece bastante, porque Nilson é um autor pra lá de prolífico. De sua pena sempre saem coisas novas e boas: biografias, livros-reportagem, coletâneas de poemas, antologias de crônicas e até um romance, o belo Mugido de Trem.

Desta vez o livro recebido – e prontamente lido com prazer – foi Ricardo Lunardelli – Uma vida a serviço da terra, perfil biográfico do notável empresário e benemérito paulista, fundador da Usina Central de Porecatu.

Noel Rosa tem um lindo samba chamado Feitio de Oração, e eu sempre me lembro dessa música quando leio alguma coisa do Nilson. Tudo que ele escreve vira prece, tem a beleza e a espiritualidade de uma oração silenciosa feita nas primeiras horas da manhã. Não foi diferente com este retrato de Lunardelli. Nilson possui aquele dom de escrever como se a própria vida falasse.

Não deve ter sido nada fácil fazer a biografia de Ricardo Lunardelli, porque não se trata de um personagem simples, plano, monocromático. Era um grande empreendedor, um homem de fé, um idealista – e um indivíduo profundamente injustiçado pela história. Por causa da Guerra de Porecatu – os conflitos de terra que feriram a região nos anos 50 –, Lunardelli teve obscurecida a sua existência de trabalhador, empresário, visionário, construtor de hospitais e escolas, filantropo e pai de família. Sua figura acabou se tornando um simulacro desenhado pelos inimigos políticos.

Ricardo Lunardelli era um idealista – e um indivíduo profundamente injustiçado pela história

Nilson Monteiro, em páginas repletas de empatia e informação, reabilita o homem que, acima de tudo, era um apaixonado pela terra, tendo sido um estudioso das técnicas agrícolas e um incansável combatente da erosão, essa doença dos solos que tantos males causou ao país.

Em certas passagens, Nilson Monteiro encontra no biografado um irmão de ofício. Sim, Ricardo Lunardelli, um autodidata, escrevia muito bem – e certas passagens sobre o manejo da terra fazem lembrar Tolstói, com um forte viés conservacionista: “O homem que amar o próximo como a si mesmo sabe que não pode receber uma Canaã e legar um Saara, para não ter de prestar conta como feitor infiel; sabe e crê que o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus para dominar a face da terra, mas não para dissipá-la como feitor infiel” (página 117).

Obrigado, Nilson, feitor fiel, por nos apresentar esse homem que tão poucos conheceram sem as névoas da ideologia. E por fazê-lo, mais uma vez, em feitio de oração.

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