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O único assunto realmente importante é a salvação. Nem estou falando da minha alma, mas da alma de todas as pessoas – até a da menina que canta "Tô bem, tô zen" na propaganda do Ministério da Educação; até a do ministro da Educação; até a do vendedor de alho da esquina, que descobri ser um homem honesto e gentil.

A maior graça do paraíso seria saber que o inferno está vazio. Por isso eu não acredito na luta de classes nem no ódio entre raças, substituindo-os pela comunidade de almas.

Todos os dias eu rezo pela conversão – não apenas a dos amigos, como também a dos inimigos e desconhecidos. Minhas reduzidas esperanças de entrar no reino dos céus, ainda que eu seja o último dos retardatários, concentram-se nessa oração pela alma dos outros. Sei que sou intrometido, e até mesmo um pouco petulante, por me preocupar assim com a vida alheia – ainda que seja a vida eterna alheia. Mas simplesmente não consigo agir de outra forma. Talvez seja uma limitação invencível da minha parte.

Semana passada, fui à capelinha do Colégio Mãe de Deus, um dos lugares mais bonitos da cidade. Rezei muitas Ave-Marias: pela alma individual de cada um dos amigos e inimigos que me criticaram ou sentiram raiva de mim nos últimos dias. Como disse o meu amigo Olavo de Carvalho em comentário recente, amar é desejar a salvação eterna do outro. Procuro não fazer outra coisa na vida, mesmo nas minhas mais duras críticas ou polêmicas. A ideia de que uma criatura de Deus vá para o inferno é terrível para mim. Quando vejo alguém fazendo uma besteira muito grande, meu impulso é correr até a pessoa e chacoalhá-la para ver se acorda. Muitas vezes cometo esse erro – e depois peço desculpas (quase nunca aceitas). Como dizia Epíteto, não há maneira de ensinar a um ser humano o que ele acha que já sabe.

Em Londrina, nos últimos dias, houve uma onda de ataques a lojas comerciais. Vários estabelecimentos amanheceram com as vitrines quebradas. Sem dúvida, esses atos de vandalismo estão ligados a um clima de desordem e anarquia que está sendo fomentado no país. O desrespeito à propriedade tem sido a marca registrada de quase todos os acontecimentos mais degradantes em nossa época. É o velho esquema da revolução: começa-se por desrespeitar a propriedade pública; avança-se, com fúria, na propriedade privada; termina-se por atacar as famílias, as convicções mais particulares e a própria vida humana.

Rezemos também uma Ave-Maria pelos dois lados: os que atacam e os que tentam se defender. Agora e na hora de nossa morte, vamos lutar por um inferno vazio.

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