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O Brasil é o oitavo mais desigual país do mundo, segundo constata, para nossa tristeza, o relatório da ONU divulgado na última quarta-feira sobre o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) relativo a 2003. Aqui, os 10% mais ricos da população (17 milhões de pessoas) concentram 47% da renda nacional, enquanto os 10% mais pobres (86 milhões) vivem com apenas 0,7% dela. A diferença entre um patamar e outro é sideral – 68 vezes! – e é quase comparável à situação dos mais miseráveis países da África, como a Namíbia, o Lesoto, Botsuana e a República Centro-Africana.

A distribuição da renda é apenas um dos critérios utilizados para a mensuração do IDH que as Nações Unidas elaboram anualmente em 177 países. Medem-se também quesitos como a taxa de matrícula nas escolas, o acesso a serviços de saúde, as condições de nutrição, o saneamento básico, a expectativa de vida e outros. Computados todos esses fatores, o Brasil ficou em 63.º lugar no ranking mundial, com a pontuação de 0,792 pontos numa escala de 0 a 1 (quanto mais próximo de 1, melhor é o IDH).

Permanecemos há anos praticamente estagnados na mesma posição. Não conseguimos apresentar avanços significativos em grau suficiente para indicar que a população brasileira vem de fato melhorando suas condições de vida. Com isso, continuamos nos mantendo distantes do nível 0,800, acima do qual os países são considerados como pertencentes ao mundo desenvolvido. Nessa escala encontram-se a Noruega, a Austrália, a Bélgica, o Canadá, a França, os Estados Unidos e... também a nossa vizinha e muitas vezes vilipendiada Argentina, o único Estado da América do Sul a apresentar grau aceitável de desenvolvimento humano.

Estreitar o fosso da desigualdade é o nosso principal desafio. Distribuir melhor a renda é mais do que meio caminho andado para que a parcela mais pobre da população tenha acesso a melhor nutrição e às demais condições de vida digna. Para tanto, é preciso repensar por completo as políticas públicas, nelas incluído o sistema fiscal vigente, cuja principal característica é sua extrema regressividade, pela qual dois terços dos impostos recaem igualmente sobre ricos e pobres. Ou seja, os pobres acabam pagando mais que os ricos, mas, inversamente, usufruem menos. Diminui-se também a desigualdade quando se investe maciçamente em educação e saúde – o que não ocorre no Brasil. Mais de 5% do Produto Interno Bruto (PIB) são reservados para pagar juros da dívida pública, mas em educação gasta-se 4,2%.

Somos um país rico em tudo. Matérias-primas estratégicas são abundantes. Fontes de energia – do Sol ao petróleo – são baratas. Nelas se plantando, há terras capazes de alimentar todo o planeta. A extensão territorial é a 5.ª do mundo; a localização geográfica é perfeita. Não é necessário cair no ufanismo nacionaleiro ao gosto dos fãs da poesia de Afonso Celso para sabermos que temos todas as condições necessárias para sermos um país menos desigual, mais justo, mais rico.

Somos o país das contradições.

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