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Não foi surpresa para ninguém Curitiba ter começado a semana sem nenhum ônibus em circulação. A possibilidade de greve no transporte coletivo estava se desenhando há semanas. Uma paralisação de duas horas no dia 9 de janeiro já tinha evidenciado a insatisfação dos cobradores e motoristas com os atrasos recorrentes no pagamento de salários por causa da suspensão dos repasses que deveriam ser feitos pela prefeitura e governo estadual às empresas de ônibus. E, na semana passada, o Sindicato dos Motoristas e Cobradores de Ônibus de Curitiba e Região Metropolitana (Sindimoc) anunciou abertamente a greve.

Mesmo diante de todos os avisos, pouco foi feito para evitar que a greve acontecesse e prejudicasse a população. A reportagem da Gazeta do Povo tem mostrado os efeitos dos dias sem transporte coletivo na cidade: terminais vazios, comércio prejudicado, espaços culturais fechados e postos de saúde em ritmo de plantão. Mesmo com a determinação judicial de que houvesse uma frota mínima nas ruas, a medida não foi cumprida, deixando a população sem ônibus durante toda segunda-feira e a maior parte de terça. Como alternativa, restaram as lotações improvisadas. Apenas ontem à noite alguns ônibus começaram a rodar. Nesta quarta, se a decisão da Justiça for respeitada, pelo menos 80% dos ônibus devem circular.

Infelizmente, o poder público parece preferir esperar até que as crises aconteçam para tomar a decisão de negociar seriamente uma solução para os problemas do estado. Por mais que o governo esteja enfrentando problemas de caixa, fato que já discutimos neste mesmo espaço em diversas ocasiões, e não disponha do valor integral para o pagamento da dívida com o Fundo de Urbanização de Curitiba, que faz o repasse às empresas do transporte, sua obrigação é, ao menos, buscar o diálogo e tentar estabelecer uma saída antes que a população seja penalizada, como sempre acontece no caso das greves do transporte coletivo. Mas não foi isso o que se viu.

Apenas ontem, na segunda audiência realizada pela Justiça do Trabalho com representes da Urbs, Comec, empresários e trabalhadores, foi apresentado um plano concreto para o pagamento da dívida, parcelando-a em cinco vezes. A primeira parcela, de R$ 5 milhões, será repassada às empresas de transporte até amanhã e será suficiente apenas para pagar o adiantamento aos trabalhadores. Não há previsão de quando o restante será pago e o impasse entre governo estadual e prefeitura deve continuar.

Na segunda-feira, o presidente do Coordenação da Região Metropolitana (Comec) Omar Akel chegou a dizer à reportagem da Gazeta que o pagamento total da dívida com a Urbs só seria feito após a negociação de um novo convênio com a prefeitura de Curitiba, ou seja, a questão está longe de uma solução definitiva e o triste calendário de greves do ano passado, quando foram registradas seis paralisações no transporte coletivo, poderá se repetir.

Não há entendimento entre governo estadual e prefeitura nem mesmo em relação ao montante da dívida. Enquanto o estado assume dever R$ 15,8 milhões, a prefeitura alega que o valor é maior, de R$ 16,5 milhões. O novo convênio para a manutenção do sistema integrado também parece longe de um acordo. A última proposta apresentada pelo estado previa a redução do subsídio metropolitano de R$ 7,5 milhões para R$ 2,3 milhões/mês, valor considerado pela prefeitura como inviável para a manutenção do serviço.

O governo estadual tem o direito de negociar com a prefeitura de Curitiba um novo convênio para a manutenção da Rede Integrada de Transporte, mas não pode fechar-se ao diálogo ou esperar até que a situação fique fora de controle para encontrar soluções, principalmente quando os principais prejudicados são a população e o desenvolvimento do estado.

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