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O recuo do dólar para uma cotação inferior a 2,30 reais, registrada nesta semana, desperta a necessidade de ajustes, para evitar flutuações exageradas no câmbio praticado pelo país. É que a excessiva taxa de juros, ao favorecer a entrada de capitais especulativos, causa baixa artificial da moeda norte-americana, afetando a regularidade dos negócios internacionais e as metas de crescimento. Tal diretriz, embora tenha obtido uma queda consistente da inflação, pode não sustentar uma expansão da economia compatível com o potencial brasileiro.

De fato, o Índice de Preços ao Consumidor Ampliado fechou julho com alta de apenas 0,25%, acumulando no ano 3,42%, dentro da meta de 5,1% fixada para todo o exercício de 2005, e as primeiras prévias de agosto apontam na mesma direção. Mas esse resultado tem sido associado à manutenção dos juros em taxa próxima a 20% nominais, o que dá em termos reais, com a inflação anualizada para a média de 6% ao ano, uma taxa real de juros de 13% – a mais alta do mundo e o dobro da praticada por países de estágio semelhante: Hungria, Turquia, etc.

Esse diferencial – aparentemente inofensivo porque mantido há meses – pode esconder a mesma armadilha que afetou o mandato do ex-presidente Fernando Henrique: uma distorção fatal na relação de câmbio erodiu os ganhos do plano de estabilização, paralisou a economia, causou um déficit externo crítico e gerou uma dívida quase insolúvel; forçando a busca de ajuda extraordinária junto ao FMI e evaporando o capital político da coligação social-democrata, o que resultou na vitória do atual governo liderado pelo PT.

Enquanto nossa taxa de juros se mantém em 19,75%, o governo dos Estados Unidos acaba de elevar essa taxa básica para 3,50% ao ano e outros países desenvolvidos, como a Inglaterra, começam a rebaixar esse indicador, mesmo estando na faixa de 3 a 4%, para estimular as respectivas economias. O problema é que uma taxa muito alta, desalinhada da média de países comparáveis, estimula a entrada de dinheiro fácil, atraído pela possibilidade de ganhos de curto prazo. Esse capital especulativo, por não ser voltado para investimentos produtivos de médio e longo prazos, causa flutuações abruptas na taxa de câmbio que marca a correlação entre o valor da moeda interna e uma cesta ponderada de moedas de países com os quais transacionamos.

Para os estudiosos uma diferença aceitável entre taxas reais de juros não deve ultrapassar a média entre 2 a 3% (no Brasil, de 13%), enquanto a taxa de flutuação (em torno de 5% para um conjunto de países emergentes) entre nós chegou a 22% nos 12 meses situados entre julho de 2004 e julho/2005. Ao defender uma flutuação suave, o deputado e ex-ministro Delfim Netto ajunta que esse efeito é multiplicado pela busca de proteção cambial ("hedge") por parte dos operadores econômicos, afetando o mercado futuro e influenciando o mercado à vista.

Por enquanto essa instabilidade tem sido anulada pelas exportações – que embora girando em torno de 100 bilhões de dólares anuais, com forte crescimento nos três últimos anos – apenas buscam o retorno ao patamar histórico de 1,4% do ranking mundial. O montante e as taxas de crescimento, contudo, são modestos diante de países como Coréia, Índia, Chile e China. Porém, a queda da relação dólar/real causa preocupação, mostrando existir algo a ser ajustado num modelo que precisa se sustentar na mais alta taxa de juro, flutuação cambial de mais de 20% e carga tributária de mais de 40%.

Numa evidência de que o modelo não é sustentável, especialistas apontam que, embora a taxa global de exportações ainda se mantenha, empresas de vários setores vão deixando o mercado externo, por não conseguirem cumprir contratos ou angariar pedidos novos para venda no exterior. Nesta hora cabe lembrar a advertência de Mário Henrique Simonsen, de que "inflação aleija, mas o câmbio mata". Se, como no ciclo 1985/2002, desorganizarmos nossa balança externa, o dano pode consumir mais de cinco anos para ser reparado.

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