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Enquanto, em Nova Iorque, os participantes da Conferência Mundial dos Presidentes de Parlamentos vivem a expectativa tensa dos momentos que antecedem os quatro minutos do discurso que o estadista de João Alfredo pronunciará no solene auditório da Organização das Nações Unidas (ONU), a recepção que o arrependimento da oposição prepara, em Brasília, para o presidente da Câmara que ajudou a eleger, promete amargar a viagem de volta do deputado Severino Cavalcanti.

A articulação do pedido de cassação do orador está pendente do apoio do naco do PT que escapou do pântano do mensalão e resistiu aos atrativos do caixa 2. Para facilitar a defenestração de Severino, oferece-se na bandeja a sua substituição por um petista, a ser escolhido na maré de boa vontade do consenso. Se o brilho da consagração internacional não inspirar o tribuno a encontrar uma explicação palatável para a enrascada em que se enleou com a divulgação do desmoralizante documento – datado de abril de 2002,no qual, como 1.° secretário da Câmara, com a sua assinatura, autoriza a prorrogação, por três anos. do contrato com o restaurante Fiorella – o eminente líder sertanejo estará embrulhado em lençóis de faquir. No ensaio das desculpas, o imaginoso Severino apresentou três versões diferentes para o contrato publicado em todos os jornais e entregue à Polícia Federal pelo comerciário Izeilton Carvalho de Souza, gerente do restaurante que funciona no 10.° andar do Palácio da Câmara e que confirmou que o então 1.° secretário recebia pro-pinas pela sua generosidade. Severino começou a desfiar as contas do rosário de explicações reconhecendo que poderia ter assinado o papelucho amaldiçoado; horas depois deu o dito pelo não dito e afirmou que não assinou o contrato e, na última variante, não confirma nem nega, negaceia: "tem que ver os originais, o ônus da prova cabe ao acusador." Quem tem três desculpas é porque não tem nenhuma. Da ONU à cassação são algumas horas de vôo no conforto da primeira classe, com passagem paga pela Câmara. É pisar em terra e mergulhar no inferno da cobrança indignada de parlamentares ensandecidos pelo risco da reelei-ção daqui a um ano e quatro meses, com o eleitorado xingando nas pesquisas, nas ruas, nas praças, nos palanques das comemorações da Independência. O que está em jogo é um mandato milionário e que o atual e repudiado presidente Severino e o seu antecessor, deputado João Paulo Cunha, adornaram com o aumento dos subsídios, com os criativos enfeites das mordomias, vantagens, benefícios que o credenciam como um dos melhores empregos do mundo. Bagatela para mais de R$ 100 mil mensais, com os por fora: a verba indenizatória, verbas de gabinete e demais miçangas.

Enquanto o laço aperta o gogó do bravo trapalhão, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva folga com o alívio do aperto, ignora as vaias, discursa e testa os candidatos à vaga do Duda Mendonça. Até agora, pelo que se viu, não encontrou o substituto imaginoso para a remontagem da imagem vitoriosa na campanha e que se desgastou com os calamitosos fracassos de metade do mandato. Nos seis minutos – dois a mais do que o tempo que a ONU reservou para o brilhareco do Severino – do pronunciamento em cadeia de rádio e televisão, repetiu os bordões dos seus improvisos diários sem acrescentar nada de novo à sua enfiada de promessas. Registre-se que deixou o velho Chico em santa paz: nem um pio sobre o compromisso de inundar o Nordeste com o desvio do Rio São Francisco no último ano do mandato, prazo menor do que as construtoras anunciam para erguer um prédio de apartamento.

Lula levita no espaço, olhos vidrados no país que a sua imaginação construiu sobre os escombros do seu governo. Trata do escândalo da corrupção como se nada tivesse a ver com a roubalheira que destroçou o Partido dos Trabalhadores, expulsou o deputado José Dirceu da Chefia da Casa Civil para a lista dos indicados para a cassação dos mandatos e respinga lama podre e suspeição por todo o governo paralisado pela omissão e a incompetência. Presidente que não tem uma única grande obra a apresentar, deve fechar a boca para que dela não escape a varejeira da impostura. Esta crise é do governo petista do presidente Lula. Celebrada com as vaias do povo, as caras-pintadas da juventude; o salário mínimo da potoca de campanha; o deboche do reajuste de 0,01% dos salários, aposentadorias e pensões dos barnabés. O governo tem muito que comemorar. Não precisa apelar para as lorotas.

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