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Como alunos geniosos de escola de disciplina frouxa e professor ausente, os ministros da Fazenda, Antônio Palocci, e a chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, ocuparam o noticiário e a tensa atenção do governo e do mundo dos negócios como principais personagens de encenação singular, que não é inédita, mas com características próprias que ajudam a entender a barafunda que inferniza o final do mandato do presidente Lula, candidato em campanha à reeleição.

Desde a promoção da ministra de gênio forte que gosta de mandar e de ser obedecida, para a vaga aberta com a queda do todo poderoso José Dirceu, virtual presidente em exercício em mais da metade do mandato de Lula – e ora purga os pecados jurando inocência, às voltas com a CPI dos Correios – que as nuvens carregadas anunciavam tempestade, com raios e trovões.

Não deu outra. Enquanto implicou com a turma do segundo escalão, a ministra Dilma ganhou todas, com destaque para as humilhações impostas à colega que marca passo na repetência, ministra do Meio Ambiente, Marina Silva.

Era previsível que, mais dia menos dias, trombasse com o competidor temível na disputa da medalha de primeiro aluno da turma. Esperou a hora, errou no cálculo e desfechou a provocação em cutucada certeira com as críticas à política econômica, aos juros na estratosfera, qualificando de rudimentar a proposta do ministro Palocci de ajuste fiscal em longo prazo.

A briga ficou feia com a troca de ásperas indiretas e venenosas diretas nos encontrões no recreio. Sentindo na pele as ferroadas da repercussão em meio à crise em que se debate, sufocado, na arrebentação das ondas em mar de ressaca, o professor ausente suportou o sacrifício de suspender por um dia a maratona dos improvisos nas viagens da rotina de candidato, para intervir com energia e habilidade, embora cometendo alguns erros, explicáveis pela falta de hábito.

Para começo de conversa, convocou os dois rivais que disputam a liderança da classe para uma conversa de severas reprimendas e um basta que soou como aviso de expulsão do colégio.

Amuos do ministro Palocci; silêncio da ministra Dilma montaram o cenário para o desfecho da reconciliação. Outros pacificadores entraram no palco para os acertos do ato apoteótico, com a especial desenvoltura do ministro das Relações Institucionais, Jaques Wagner, que leva a vantagem da facilidade em improvisar versões que explicam o que não tem justificativa.

Com tais paparicos, o ministro Palocci amoleceu e tomou a iniciativa de procurar a adversária em sua residência oficial. Horas de conversa selaram o pacto com o meio a meio das concessões: a meta de superávit primário de 4,25% do PIB atende ao ministro da Fazenda e escancara a saída honrosa para a ministra Dilma, defensora de investimentos na área social e em obras públicas, sacudindo a pasmaceira do governo.

O ato final foi uma sucessão de surpresas. O mestre Lula interrompeu o repouso domingueiro para presidir o encontro que selou a reconciliação. Convocou testemunhas, por garantia. Além do ministro Jaques Wagner, outros dois colegas com boas notas: os ministros da Justiça, Márcio Thomas Bastos, e da Integração Nacional, Ciro Gomes.

Quem mais tem a aprender com a lição da festa de fim de ano na escola do governo é o professor Lula, se tiver humildade para reconhecer os próprios erros na euforia pelos resultados da safra de inusitados acertos..

A rixa entre alunos que se destacam na turma imensa – que não cabem na sala e gazeteiam na ociosidade dos que não têm o que fazer – é típica das escolas com disciplina relaxada e professores ausentes, mas que gostam de brilhar diante de platéias e microfones.

Com as chamas do incêndio ameaçando as suas ambições, Lula despertou e conseguiu apagar as chamas. Não se sabe se sobraram algumas brasas a reclamar atenção e cuidado.

O exercício da Presidência exige a rotina programada para o dia-a-dia de muitas horas de expediente, com os despachos regulares com todos os ministros e secretários e o acompanhamento do desempenho de cada um.

O presidente é insubstituível. Exemplos excepcionais de delegação de poder bem-sucedidas contam-se pelos dedos de uma das mãos. Não é a boa regra, mas as exceções.

Lula experimentou com o deputado José Dirceu e deu em mensalão, caixa 2, CPIs e a crise da corrupção que salpica lama para todos os lados.

Agora, com a ministra Dilma, foi obrigado a intervir para abafar nova crise na cúpula do governo.

Mas, o professor não se emenda. Até na reunião dominical com meia dúzia de alunos, o mestre Lula ocupou a maior parte do tempo em longo improviso de auto-elogio, comemorando os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) que demonstram que, depois de 20 anos, a desigualdade social começou a diminuir com a queda de dois pontos percentuais nos índices de indigência.

É pouco. Mas, melhor do que nada.

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