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Opinião do dia 2

É dezembro, mas o clima não é todo de comemorações

Estamos nos aproximando de mais um fim de ano. As cidades se vestem de luzes, brilhos, canções de Natal. Há euforia no comércio. Bom seria se pudéssemos olhar para trás e ver que tudo que passou valeu a pena, restando apenas festejar. O clima, porém, não é inteiramente de festas. Passamos a maior parte do ano vendo e ouvindo representantes do povo sendo acusados de participar de esquemas imorais, o governo esquecendo de governar, o Congresso transformado em palco de revelações de corrupção, deixando de legislar, e, agora, o resultado não poderia ser diferente: a inesperada previsão de queda do Produto Interno Bruto (PIB) do país de 3,5% para cerca de 2,6%, quando a taxa mundial deve fechar o ano com 4,3%, as nações emergentes registrarem a média de 6%, idem Chile e Argentina, a Venezuela 4,6%; a China, 8,5%; Índia, 6,5%. Até a região mais atrasada da África, a subsaariana, deve marcar 5% de expansão.

O que houve com o espetáculo de crescimento prometido pelo governo? Perdeu-se, indiscutivelmente, em meio a desgovernos, à crise política, aos juros altos, à excessiva carga tributária, ao câmbio que fez o dólar agir de modo irreal e as exportações despencarem, à queda na safra agrícola e perda de ritmo do agronegócio, à omissão no controle da aftosa, perdeu-se enfim, meio à falta de incentivo ao empreendedor nacional, aos excessos de burocracias e exigências para se abrir e manter um negócio, à indisposição para a modernização, como denunciamos em passeata, no dia 30 de novembro, especificamente, a Receita Federal e o INSS.

A injeção de R$ 2,1 bilhões anunciada pelo governo é uma medida de desespero. Já não é mais possível recuperar o tempo perdido. Não neste ano. Além de ser discutível se a abertura dos cofres da União, dessa forma, é válida. O montante deverá atender gastos dos ministérios, dos estados e, de quebra, o custeio de emendas de parlamentares – definição certamente orientada para o jogo eleitoral. Ponto para a ministra Dilma Roussef, na sua queda-de-braço com o ministro Palocci, defensor inabalável do rígido controle da economia, contenção nos gastos, pagamento das contas.

Discordando da ministra Dilma, não é função do governo estimular diretamente a economia com verbas. Discordando também do ministro Palocci, não pode o governo sufocar as atividades econômicas. Seu papel é sim cuidar que a economia viva, respire, cresça, promova qualidade de vida; criar um ambiente plenamente favorável e seguro.

Como têm sido raras as iniciativas, nesse sentido, não é mérito do governo, pois a única notícia alentadora dessa primeira semana de dezembro. Mérito, quem sabe, da globalização. Segundo a respeitada pesquisa AT Kearney, o Brasil, que estava em 17.º lugar, entre os países mais atrativos para investimentos reais, acaba de passar para a 7.ª posição, perdendo apenas para a China, Índia, Estados Unidos, Reino Unido, Polônia e Rússia. Significa que, a despeito dos rentáveis juros pagos aqui, investidores já não estão procurando o país apenas pelos lucros fáceis, mas há também aqueles interessados em um mercado de consumo de 180 milhões de pessoas, ainda por expandir em inúmeras direções e setores.

Não fossem, portanto, a crise política e os tantos equívocos do governo, o Brasil poderia estar entre os primeiros no ranking dos investidores que vêm para gerar riqueza, tecnologia e empregos; ostentar um PIB invejável; para não dizer que estaria de bem com os próprios brasileiros que, além de poderem comemorar plenamente, teriam motivos para confiar no amanhã, a despeito de amanhã ser ano eleitoral.

Maurício Fernando Cunha Smijtink é contador, empresário da contabilidade e presidente do CRCPR.

mauricio@crcpr.org.br

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