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Estamos nos aproximando de mais um fim de ano. As cidades se vestem de luzes, brilhos, canções de Natal. Há euforia no comércio. Bom seria se pudéssemos olhar para trás e ver que tudo que passou valeu a pena, restando apenas festejar. O clima, porém, não é inteiramente de festas. Passamos a maior parte do ano vendo e ouvindo representantes do povo sendo acusados de participar de esquemas imorais, o governo esquecendo de governar, o Congresso transformado em palco de revelações de corrupção, deixando de legislar, e, agora, o resultado não poderia ser diferente: a inesperada previsão de queda do Produto Interno Bruto (PIB) do país de 3,5% para cerca de 2,6%, quando a taxa mundial deve fechar o ano com 4,3%, as nações emergentes registrarem a média de 6%, idem Chile e Argentina, a Venezuela 4,6%; a China, 8,5%; Índia, 6,5%. Até a região mais atrasada da África, a subsaariana, deve marcar 5% de expansão.

O que houve com o espetáculo de crescimento prometido pelo governo? Perdeu-se, indiscutivelmente, em meio a desgovernos, à crise política, aos juros altos, à excessiva carga tributária, ao câmbio que fez o dólar agir de modo irreal e as exportações despencarem, à queda na safra agrícola e perda de ritmo do agronegócio, à omissão no controle da aftosa, perdeu-se enfim, meio à falta de incentivo ao empreendedor nacional, aos excessos de burocracias e exigências para se abrir e manter um negócio, à indisposição para a modernização, como denunciamos em passeata, no dia 30 de novembro, especificamente, a Receita Federal e o INSS.

A injeção de R$ 2,1 bilhões anunciada pelo governo é uma medida de desespero. Já não é mais possível recuperar o tempo perdido. Não neste ano. Além de ser discutível se a abertura dos cofres da União, dessa forma, é válida. O montante deverá atender gastos dos ministérios, dos estados e, de quebra, o custeio de emendas de parlamentares – definição certamente orientada para o jogo eleitoral. Ponto para a ministra Dilma Roussef, na sua queda-de-braço com o ministro Palocci, defensor inabalável do rígido controle da economia, contenção nos gastos, pagamento das contas.

Discordando da ministra Dilma, não é função do governo estimular diretamente a economia com verbas. Discordando também do ministro Palocci, não pode o governo sufocar as atividades econômicas. Seu papel é sim cuidar que a economia viva, respire, cresça, promova qualidade de vida; criar um ambiente plenamente favorável e seguro.

Como têm sido raras as iniciativas, nesse sentido, não é mérito do governo, pois a única notícia alentadora dessa primeira semana de dezembro. Mérito, quem sabe, da globalização. Segundo a respeitada pesquisa AT Kearney, o Brasil, que estava em 17.º lugar, entre os países mais atrativos para investimentos reais, acaba de passar para a 7.ª posição, perdendo apenas para a China, Índia, Estados Unidos, Reino Unido, Polônia e Rússia. Significa que, a despeito dos rentáveis juros pagos aqui, investidores já não estão procurando o país apenas pelos lucros fáceis, mas há também aqueles interessados em um mercado de consumo de 180 milhões de pessoas, ainda por expandir em inúmeras direções e setores.

Não fossem, portanto, a crise política e os tantos equívocos do governo, o Brasil poderia estar entre os primeiros no ranking dos investidores que vêm para gerar riqueza, tecnologia e empregos; ostentar um PIB invejável; para não dizer que estaria de bem com os próprios brasileiros que, além de poderem comemorar plenamente, teriam motivos para confiar no amanhã, a despeito de amanhã ser ano eleitoral.

Maurício Fernando Cunha Smijtink é contador, empresário da contabilidade e presidente do CRCPR.

mauricio@crcpr.org.br

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