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Apesar de ser vista como um conceito a mais na dinâmica dos mercados, a Economia Criativa tem sido considerada como uma das grandes estratégias do século; tornou-se um tema importante da pauta do desenvolvimento socioeconômico que une economia, cultura e negócios; ou o novo "ouro do século 21". Está em evolução, aberta à observação, ao estudo e à discussão.

Com o tempo, o conceito de Economia Criativa permitiu a inclusão de uma ampla diversidade de setores, além daqueles normalmente relacionados às artes e à cultura. Trata-se de produtos tangíveis ou serviços intangíveis com conteúdo criativo, valor econômico e objetivos de mercado. A novidade é a estratificação e a reflexão sobre o impacto e o potencial da Economia Criativa. Ela sempre existiu de maneira difusa, permeando as atividades econômicas, como spillovers, uma espécie de conhecimento difuso "solto no ar". Os ativos se expandem na economia. Além do produto cujo insumo primordial é a criatividade, é legítima a criação de valor agregado tanto da criatividade quanto da semântica dessa criatividade: o que está por trás dela? De onde surgiu? O que a motiva? Quais os valores que a justificam? O que pensam e como vivem seus criadores? Qual a sua história? Quais são seus princípios éticos e estéticos?

Entretanto, isso deve ser um processo e não um sentido "a partir do nada"; é um olhar original sobre o que já existe e o que virá; uma nova valoração da dimensão simbólica do conhecimento gerado pelas sociedades. Imaginemos um produto feito com um insumo retirado da natureza. Além de incorporar uma inovação no seu processo produtivo (matéria-prima nunca antes utilizada), guarda o "espírito", o "significado" profundo dessa matéria-prima conhecido dos nativos da região. O valor se expande a um referencial histórico local materializado em forma de produto com forte carga emocional. Um exemplo é um circuito que proporciona aos turistas uma visita a um vinhedo no qual eles degustam os vinhos e participam de uma sessão para macerar as castas de uvas com os pés, dentro de uma tina de carvalho. A experiência já é valorada de outra maneira. Atributos antes tidos como secundários – o valor de estima, os fatores emotivos, estéticos e psicológicos, a qualidade percebida e o reconhecimento da comunidade e do território onde se produz (terroir) – são hoje diferenciais competitivos alçados à condição de atributos primários.

Os intangíveis podem estar conectados tanto à tradição quanto às mais modernas técnicas de arte visual ou digital, ou à recuperação do que foi perdido ou esquecido no tempo. Diz-se de uma indústria criativa ser aquela que valora o significado autêntico e legítimo da criatividade em seus produtos e serviços, dependendo da riqueza do processo. Mesmo a indústria tradicional agora olha seu negócio com mais atenção à dimensão invisível e a valores antes subjulgados. Segundo especialistas, no âmbito urbano, quando uma cidade se organiza, abre espaço e prepara o ambiente onde se possa exercer mais e melhor a criatividade e usufruir dela, ela se torna uma cidade criativa.

Dourado parece ser esse novo olhar que nos abre a infinitas possibilidades tendo como pano de fundo a criatividade e a cultura, em todos os seus aspectos, desde os mais ontológicos e primordiais do homem. Ao "ouro do século 21" resta permitir-se, ter sentimento para ver, olhos para sentir e empreender.

Patrizia Bittencourt Pereira, mestre em De­­senvolvimento Econômico, é analista do Cifal, centro internacional especializado em ca­pa­citação técnica para gestores públicos e líde­res da sociedade civil para a América Latina.

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