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Dados sobre atropelamentos são tão assombrosos que, num mundo perfeito, gerariam paralisação da sociedade em cobrança de soluções imediatas

O alerta está dado. A Gazeta do Povo publicou nesta semana um dado alarmante, oriundo da Secretaria Municipal de Trânsito, a Setran, e outros órgãos que lidam com a mobilidade: 40% das mortes nas vias públicas se dão por atropelamento. Um dos números apresentados já seria o bastante para parar o mundo e pedir para descer: dos 144 óbitos em Curitiba no primeiro semestre de 2012, 60 foram de pedestres atingidos por automóveis.

Fiquemos atentos – o número deve ser bem maior. Como não há um "observatório do trânsito", projeto há muito prometido, cruzando dados de mais de uma base, resta a dúvida sobre as vítimas que morreram em hospitais depois de serem atropeladas, tendo outro motivo apontado como causa da morte. A dúvida só vem corroborar o pânico que acompanha qualquer um que use de seu direito de pedestre. Uma das paranoias que acompanham essa grande categoria, diga-se, são as motocicletas, cujos condutores comumente agem como se vivessem na informalidade. Quem nunca levou "fininha" de uma moto que levante a mão.

Anos atrás a Gazeta publicou matéria muito educativa, mostrando como os centros de condutores de automóveis, as autoescolas, não ensinavam seus alunos a dirigirem em estradas. Naquela altura, com as facilidades na aquisição de veículos, cada vez mais gente pegava as BRs e PRs logo depois de tirar a carteira, julgando-se num passeio no parque. Eram verdadeiros camicazes, sem noção de velocidade e dos perigos a que estavam expostos e expondo os outros.

Pois o chamado de atenção daquele momento vale agora, de novo, numa outra circunstância – os centros de condutores deveriam "pegar pesado", como se diz na gíria, e mostrar a seus clientes o que acontece com o corpo humano ao ser atingido por um monte de lata movido a gasolina, a uma velocidade módica de 60 quilômetros por hora. Nesse quesito é preciso seguir a política australiana, dada ao hiper-realismo para "acordar" os motoristas homicidas.

Os críticos a esse modelo mais radical diriam que tal pedagogia tem o efeito de um traque, à semelhança do que ocorre com o horror ilustrado nas carteiras de cigarro. Pode ser verdade, mas em matéria de trânsito não chegamos sequer a esse estágio de jogar água fria ou dar um chacoalhão em quem precisa. Ainda pesa sobre o poder público a culpa de ser brando demais em questões de segurança envolvendo automóveis, pedestres e quetais. Resta sempre a impressão de uma sociedade conivente e complacente com a cultura motorizada, pouco sensível a quem anda a pé e o quanto essa mentalidade inibe o desenvolvimento das cidades.

Outra medida urgente diz respeito às vias de circulação. A Setran informa que está monitorando 15 cruzamentos da capital paranaense, nos quais a situação é crítica. Quiçá seja o início de uma varredura por todas as esquinas da cidade. A prefeitura descobriria, com certeza, uma estatística incrível – a quantidade de ruas em que o pedestre não tem vez. São sinais que abrem e fecham logo em seguida, semáforos com pouca visibilidade e zonas impossíveis de serem atravessadas.

Exagero? Se o poder público pedir ajuda à população terá em um dia uma lista assombrosa de lugares em que atravessar é risco de morte na certa – incluindo regiões altamente urbanizadas da "cidade-modelo". Tem de correr, levar pito de motorista. Quanto aos mais velhos, nem é preciso dizer o que lhes acontece.

Vale lembrar o que diz o norte-americano Alexandros Washburn – urbanista responsável pelo bem-estar de quem anda a pé em Nova York: "Caminhar é a atividade mais importante nas cidades". Washburn disse essa frase ao se dar conta da tortura a que estão expostos os caminhantes brasileiros. A urbe brasileira lhe pareceu indiferente a quem anda.

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