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Pelos compromissos que o governo assumiu para trazer o torneio, inclusive garantindo recursos para a construção de estádios, o mínimo que se exige é total transparência para evitar os desmandos

Aos trancos e barrancos, o Brasil vai caminhando para cumprir o calendário e garantir a Copa do Mundo de 2014. Se não pairam dúvidas de que o evento sairá de qualquer jeito, de outro lado os problemas que vêm se acumulando até agora mostram o despreparo do país quando a questão refere-se à organização, prazos e custos. Com efeito, determinados fatos geram perplexidade e dúvidas sobre o comprometimento e a seriedade de algumas das pessoas que estão à frente do projeto Copa.

A começar pelo ministro do Esporte, Aldo Rebelo, que na última quinta-feira admitiu a existência de problemas de organização, mas que, segundo ele, não irão atrapalhar a realização do torneio. A sua confiança foi depositada candidamente no famoso "jeitinho" do brasileiro, que faz com que tudo acabe dando certo. Rebelo se socorreu até mesmo da "cultura do atraso" como uma característica do processo civilizatório do país, condição que segundo ele não impede que as coisas funcionem bem. Ainda que se dê algum crédito às palavras do ministro, deixar por conta apenas do "jeitinho" o encaminhamento da organização de um empreendimento das proporções de uma Copa do Mundo é no mínimo temerário.

Mas não é apenas o ministro do Esporte que tem respostas simplórias para os problemas complexos inerentes à realização do Campeonato Mundial de Futebol. No âmbito doméstico o "mico" ficou com o secretário estadual para Assuntos da Copa, o vereador Mário Celso Cunha. Este, espertamente, durante reunião do Conselho Deliberativo do Atlético, chegou a sugerir que o clube não deveria pagar os empréstimos perante o BNDES, sob o argumento de que o governo não teria como cobrar os repasses efetuados para as obras dos estádios. É bem verdade que o vereador à época ainda não estava no cargo de secretário para Assuntos da Copa, mas a simples sugestão de um calote vindo de alguém detentor de um mandato popular público é um fato a ser lamentado.

Mas, se declarações extemporâneas e despropositadas surpreendem pelo lado inconsequente, a Copa do Brasil é assunto sério que permanece eivado de indefinições. Dúvidas, por exemplo, que levaram o ex-jogador e atual deputado federal pelo Rio de Janeiro Romário a efetuar sérios questionamentos envolvendo a organização do evento. Sem meias-palavras, o ex-craque da Seleção tem denunciado os atrasos no cronograma das obras e os riscos de superfaturamento nos preços finais dos empreendimentos. Situação que, segundo ele, vai provocar chuva de obras sem licitação e muita corrupção.

Pelos compromissos que o governo assumiu para trazer o torneio, inclusive garantindo recursos para a construção de estádios, alguns deles candidatos a elefantes brancos após os jogos, o mínimo que se exige é total transparência para evitar os desmandos. Possibilidade, aliás, bastante concreta diante do histórico que tem o Brasil de ser um sorvedouro de dinheiro quando se trata de megaempreendimentos com a participação de recursos públicos. O alerta é ainda mais procedente quando se sabe que a realização de uma Copa do Mundo extrapola em muito o planejamento voltado apenas para o âmbito esportivo. Muito mais complexa é a preparação da infraestrutura voltada para a mobilidade urbana nas cidades-sedes, que compreende desde o setor de transportes à hotelaria, da comunicação à segurança. Pontos que ainda estão longe de terem sido equacionados pelo Brasil.

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