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Manobras e acordos de bastidores limitam a atuação da comissão e evitam a presença de notórias figuras envolvidas com Carlinhos Cachoeira, mas novos fatos podem dar fôlego extra às apurações

Tanto governo quanto oposição vêm se digladiando na CPMI que investiga as suspeitas relações do contraventor Carlinhos Cachoeira com diferentes esferas do poder público. Os discursos acalorados e a troca de acusações entre os parlamentares, entretanto, não conseguem dissimular a preocupação da maioria em passar ao largo de assuntos que possam acarretar revelações incômodas para ambos os lados. Assim foi quando dos depoimentos amenos dos governadores Marconi Perillo (PSDB, de Goiás) e Agnelo Queiroz (PT, do Distrito Federal) e na decisão de não convocar para depor o governador Sérgio Cabral, do Rio de Janeiro, e o empresário Fernando Cavendish, da empreiteira Delta.

Apesar das manobras e acordos de bastidores para limitar a atuação da comissão e, com isso, evitar a presença de notórias figuras envolvidas no imbróglio, novos fatos que vieram a público podem dar fôlego extra às apurações. O mais recente deles, de suma gravidade, motivou denúncia feita por um próprio integrante da CPMI, o deputado Miro Teixeira (PDT-RJ). Segundo ele, um grupo estaria pagando parlamentares para evitar que sejam chamadas a depor pessoas-chave nas obscuras relações de Cachoeira com políticos e empresários, em especial o empreiteiro Fernando Cavendish.

Não bastasse isso, Miro pediu que fosse apurado o encontro que teria ocorrido em Paris, reunindo dois membros da CPMI – o deputado Maurício Quintella (PR-AL) e o senador Ciro Nogueira (PP-PI) – e o próprio Cavendish. Este teria como sócio oculto ninguém menos que o próprio Cachoeira, fato que reforça a importância de vir a ser chamado a depor. Tanto Quintella como Nogueira confirmaram terem almoçado com o empreiteiro na capital francesa, qualificando o fato como meramente "casual" e sem influência em suas atuações na comissão. Em meio a tantos interesses obscuros que se suspeita estarem por detrás de Cachoeira e cia., fica difícil acreditar em tamanha coincidência envolvendo almoço entre investigadores e investigado, ainda mais em outro país.

Paris, aliás, parece ser um dos pontos preferidos de Cavendish. Recentemente, ele e o governador Sérgio Cabral foram protagonistas de outro registro constrangedor na capital francesa, quando foram flagrados em um animado regabofe, todos com (até agora sem explicação) guardanapos enrolados na cabeça. Comemorações exóticas à parte, os desdobramentos dos fatos envolvendo a CPMI são por demais sérios para que sejam empurrados para debaixo do tapete como costumeiramente se faz no Brasil. E Cachoeira, Cavendish, governadores e parlamentares têm muito a explicar sobre as negociatas em que estão enredados.

A verdade é que a história de Carlinhos Cachoeira e suas obscuras relações refletem um problema crônico de que padece o Brasil: a corrupção que se enraizou na vida pública, fruto principalmente da impunidade, que em última análise acaba estimulando as práticas ilegais. Não permitir que as investigações em torno do contraventor e suas ligações terminem de forma inconclusiva é o mínimo que se espera da CPMI – que não pode se curvar às pressões, venham de onde vierem.

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