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Ex-presidente Lula poderá disputar as eleições de 2022, já que deixou de ser ficha suja por decisão de Edson Fachin, do STF.
Ex-presidente Lula está provisoriamente livre para disputar as eleições de 2022| Foto: Ricardo Stuckert/Fotos Públicas

Lula está provisoriamente de volta ao páreo eleitoral, tornado “ficha limpa” pelas mãos do ministro Edson Fachin, que anulou todos os processos contra o ex-presidente na 13.ª Vara Federal de Curitiba. Para que ele fique novamente impedido de competir, será necessário que um colegiado do Supremo (o plenário, ou a Segunda Turma) reverta o ato de Fachin, e que a Segunda Turma rejeite a tese da parcialidade do então juiz Sergio Moro – uma feliz conjunção que manteria as condenações de Lula, mas que, por mais desejável, positiva para o país e juridicamente correta que seja, parece altamente improvável no momento.

O ex-presidente não se lançou candidato explicitamente – e talvez isso nem seja necessário, especialista que é em dissimular campanha antecipada –, mas a narrativa já está posta por seus apoiadores na imprensa e na academia: 2022 seria um embate entre os autoritários, do lado do presidente Jair Bolsonaro, e os democratas, agrupados em torno do petismo, seja com Lula, seja com o “poste” que ele ungir. Um discurso que só tem como prosperar apoiado na memória muito curta do eleitorado.

A repetida tentativa de fraudar a democracia brasileira, o desejo de controlar a imprensa e a amizade íntima com as ditaduras mais nefastas do continente latino-americano não credenciam nenhum partido ou líder a se denominar “democrata”

Afinal, autênticos democratas não fraudam a democracia da forma como o petismo fez ao organizar os dois maiores esquemas de corrupção da história do país. O partido quis, por duas vezes, anular a separação de poderes por meio da compra de apoio no Poder Legislativo, seja pela distribuição pura e simples de dinheiro, no caso do mensalão, seja pela pilhagem das estatais com o apoio de partidos aliados e empreiteiras, no esquema desvendado pela Operação Lava Jato. No julgamento do mensalão no STF, o então ministro Ayres Britto descreveu o esquema como “golpe nesse conteúdo da democracia, que é o republicanismo”, pois tratava-se de perpetuar “um projeto de poder (...). Não de governo, porque projeto de governo é lícito, mas um projeto de poder que vai muito além de um quadriênio quadruplicado, muito mais de continuidade administrativa”. O petrolão foi apenas a continuação do mensalão por outros meios, como ficou amplamente demonstrado pelas evidências levantadas pela Lava Jato, e que nenhuma decisão judicial será capaz de apagar.

E, se Bolsonaro é reconhecidamente hostil à imprensa, o petismo não fica atrás. No poder, o PT tentou controlar a atividade jornalística ao pressionar pela criação de um Conselho Federal de Jornalismo; depois de alijado do Planalto, o partido lamentou, em resolução oficial que tentava explicar as razões para o impeachment de Dilma Rousseff, não ter colocado um cabresto na imprensa, no Ministério Público, na Polícia Federal e nas Forças Armadas. Sem falar, evidentemente, dos vários episódios de hostilização de jornalistas por parte de militantes, incluindo o ataque à sede da Editora Abril às vésperas do segundo turno da eleição de 2014, após a publicação, pela revista Veja, de uma reportagem sobre o petrolão.

A ânsia de controlar a imprensa livre, aliás, anda de mãos dadas com outra característica marcante do PT e de Lula: seu apreço por ditaduras. Se há muitos motivos para se criticar a defesa que Bolsonaro faz da ditadura militar brasileira, o petismo perde qualquer aspiração a ter envergadura moral neste campo ao seguir apoiando entusiasticamente as ditaduras venezuelana e cubana – no mais recente episódio desta camaradagem ideológica, o PT manifestou sua satisfação com a farsa eleitoral realizada em dezembro do ano passado e que elegeu uma Assembleia Nacional ilegítima, totalmente dominada pelo ditador Nicolás Maduro.

A repetida tentativa de fraudar a democracia brasileira – e a glorificação dos protagonistas de tais esquemas, aclamados como “guerreiros do povo brasileiro” –, o desejo de controlar a imprensa e a amizade íntima com as ditaduras mais nefastas do continente latino-americano não credenciam nenhum partido ou líder a se denominar “democrata”. Que haja postulantes – pessoas ou legendas – ao comando da nação com esse perfil, e que isso seja tratado com enorme naturalidade, é apenas mais um sintoma da degradação moral por que passa a política brasileira.

A narrativa de que 2022 será um embate polarizado não entre petismo e bolsonarismo, mas entre autoritarismo (representado por Bolsonaro) e democracia (representada por Lula), não passa de uma fraude dos defensores do ex-presidente. Os brasileiros realmente comprometidos com a democracia, com as liberdades, com o combate à corrupção e que porventura estejam também descontentes com o atual governo não abraçarão o discurso de quem pode até estar juridicamente “limpo”, mas não tem como apagar a verdade sobre o que é, o que fez e o que defende.

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