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O Paraná e o Brasil produzem transgênicos comercialmente há cinco safras e, em cada plantio, questiona-se sobre as vantagens e desvantagens dessa opção. Aos poucos, os temores vão perdendo força e a opção ganha espaço inclusive em regiões que privilegiam a preservação ambiental. A tendência mostra que a tecnologia veio para ficar e que, estrategicamente, o País precisa investir mais em pesquisas.

A portaria que reduz a zona de amortecimento em volta do Parque Nacional do Iguaçu para o plantio de milho transgênico – de 10 quilômetros para 1,2 quilômetro de largura – mostra que a opção representa, na prática, menos risco do que se temia. O documento deve ser publicado neste mês, e conta com aprovação do Conselho Consultivo do parque. As restrições impedem atualmente que 54 mil produtores usem sementes de milho geneticamente modificadas. A faixa de 10 quilômetros já foi reduzida para a soja (500 metros) e o algodão (1,8 quilômetro).

A soja transgênica entrou ilegalmente no Brasil a partir do Rio Grande do Sul e provocou turbulência sem precedentes no setor no início dos anos 2000. A sociedade se envolveu na discussão e passou, de forma inédita, a monitorar atentamente as sementes que o agricultor escolhe.

Autorizada a produção em escala comercial, o debate se estendeu à cobrança de royalties. Já não eram só os riscos à saúde pública que estavam em jogo, mas a própria relação econômica entre o Brasil – um país com forte atuação na produção de grãos in natura – e os Estados Unidos ou os países da Europa, origem das multinacionais que exportam tecnologia e lucram até mais do que se dedicassem todas as suas terras agricultáveis à atividade rural.

Ainda que as medidas de precaução ante os transgênicos tomadas atualmente pelo Brasil sejam consideradas insuficientes, o cultivo se expandiu ano após ano. Duas safras atrás, o campo começou a adotar sementes modificadas também de milho. Hoje, dois terços das lavouras das duas culturas economicamente mais importantes – soja e milho – são plantados com sementes geneticamente modificadas.

Os transgênicos são usados na produção do óleo de cozinha, da margarina, da farinha de milho e, por tabela, de uma centena de alimentos que estão na mesa do brasileiro todos os dias. O frango, o suíno e o boi consomem sem restrições ração produzida com grãos transgênicos.

O mercado se tornou dependente da tecnologia desenvolvida pelas multinacionais. Economicamente, no entanto, essa adesão torna a dependência tecnológica cada vez mais pesada. Um problema que só a ampliação nos investimentos nacionais em pesquisa pode resolver.

Trata-se de uma questão-chave, que pode fortalecer a cadeia produtiva da soja e do milho, com mais riqueza e empregos. O país não está mais diante de discussões ideológicas sem fim, mas de contradições práticas, que merecem ser analisadas e bem resolvidas.

Tanto o governo estadual quanto o federal confirmam que devem manter ou ampliar investimentos em instituições como a Embrapa e o Iapar, que têm reconhecido potencial para ampliar suas atividades e reduzir a dependência tecnológica brasileira. As pesquisas desenvolvidas em parceria com as multinacionais são um primeiro passo neste sentido. Mas ainda há muito a fazer.

Os recursos necessários ainda ficam bem acima dos financiamentos que os pesquisadores vêm recebendo. Tanto no setor público quanto no privado, os problemas começam na escassez de propostas estratégicas, passam pela falta de confiança e terminam no orçamento insuficiente.

Num ambiente cada vez mais competitivo, o País precisa discutir com clareza as diversas implicações da adoção dessa ou daquela tecnologia. O mercado interno merece ser bem informado sobre os alimentos que consome. Com uma postura madura e preparada, o Brasil pode avançar não só assumindo o papel de fornecedor de alimentos para o mundo, mas também enquanto conhecedor de suas atividades e do caminho a ser percorrido para que elas sejam desempenhadas da melhor maneira possível.

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