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Dilma Rousseff
| Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

É legítimo supor que passe pela cabeça de quem consiga se eleger ao cargo de presidente da República o desejo de ser visto como alguém portador de méritos e qualidades. É normal que o chefe da nação tenha a pretensão de mostrar sabedoria e ser reconhecido como bom administrador, bom líder político e exemplo moral. Se isso é verdade, um presidente da República certamente julgaria importante estudar, ler relatórios, examinar informações sobre o país e, também, aprender um mínimo de teorias sobre economia, política, direito, sociologia, relações internacionais e outros assuntos relevantes para o exercício de seu relevante cargo e para promover o progresso nacional.

Por consequência, um presidente deveria ser comedido com as palavras, cuidadoso com suas opiniões e principalmente evitar enunciar bobagens notórias, sobretudo em áreas sensíveis como é o caso da economia. Os presidentes brasileiros, salvo raras exceções, têm o hábito de falar demais sobre assuntos econômicos, não raro emitindo opiniões sem base teórica e claramente falsas. Os exemplos são muitos. Em julho de 2012, a presidente Dilma Rousseff disse, em cerimônia pública, que não é pelo Produto Interno Bruto (PIB) que se mede o desenvolvimento de um país, mas sim pela forma como a sociedade e o governo tratam suas crianças e adolescentes.

Os presidentes brasileiros, salvo raras exceções, têm o hábito de falar demais sobre assuntos econômicos, não raro emitindo opiniões sem base teórica e claramente falsas

Por mais que tratar bem as crianças e adolescentes seja uma qualidade e um objetivo a ser buscado, o desenvolvimento caracterizado pelo crescimento econômico e a melhoria do bem-estar social médio depende diretamente do tamanho do PIB comparado com o tamanho da população. Assim, o crescimento do PIB é a condição principal para viabilizar o aumento da renda por habitante e a elevação do padrão de vida médio da população. No caso da declaração de Dilma Rousseff, ela enunciou uma tese absolutamente falsa; logo, soa como irônico que a própria Dilma seja agraciada, como acaba de ser neste fim de ano, com o título de “Mulher Economista de 2023”, honraria concedida pelo Conselho Federal de Economia (Cofecon) a mulheres que tenham tido papel de destaque na promoção do desenvolvimento com responsabilidade. Os economistas filiados ao Cofecon que não concordam com essa homenagem pela ausência clara de mérito não têm a opção de desfiliação, já que precisam do registro para o exercício da profissão.

Trazendo a prática de enunciar bobagens e falsidades para os dias atuais, Lula tem se esmerado em fazer afirmações públicas que o levariam a ser reprovado no primeiro ano do curso de Economia. Há poucas semanas, Lula afirmou que o déficit público não tem a menor importância e que o governo não vai cumprir a meta de zerar o déficit em 2024. Não existe teoria séria no mundo capaz de afirmar que o déficit não tem importância e que, logo, o governo pode gastar mais do que arrecada sem consequências negativas. Mas há outras pérolas de estupidez teórica, como a declaração de Lula de que o país pode fazer mais dívidas para cobrir gastos públicos, sem mencionar como será resolvido o grave aumento da dívida pública que vem ocorrendo, como também se não houvesse problema nem limite para o endividamento do governo.

Nos temas das declarações disparatadas de Lula e Dilma está presente a função do PIB. O próprio Lula e o PT usaram os anos de bom crescimento do PIB a partir de 2003, quando Lula assumiu em seu primeiro mandato, para elogiar a si mesmos e dizer que eles, sim, sabiam fazer o país crescer, gerar empregos e melhorar a renda das pessoas, num reconhecimento público de que o crescimento do PIB importa – e muito. O tamanho do PIB pode não ser condição suficiente para prover bom padrão de bem-estar a todas as famílias, sobretudo em caso de má distribuição de renda, mas é condição rigorosamente necessária para elevar o padrão médio do bem-estar social nacional.

Quando Dilma veio com a declaração de que não é pelo PIB que se mede o desenvolvimento de um país, a renda por habitante no Brasil equivalia a 23% da renda por habitante nos Estados Unidos, sendo essa a mais importante medida da distância do padrão de vida média nos dois países. O fato é que a declaração viria a ser desmentida na esteira do enorme fracasso no desempenho do PIB brasileiro em 2015 e 2016, quando o Brasil experimentou sua maior recessão da história no acumulado de dois anos, período em que o PIB caiu 3,5% em 2015 e repetiu a dose em 2016 ao cair 3,3%.

Por óbvio, com menor produção nacional, aumenta o desemprego, cai a arrecadação de tributos e aumentam os gastos do governo com seguro-desemprego e programas sociais; a tendência é o governo fazer mais déficit e mais dívida pública, ou seja, uma tragédia econômica conhecida como recessão. Esse quadro, de tão repetido no Brasil e no mundo, é bastante conhecido mesmo pelas pessoas simples, e não requer nenhuma excelência intelectual para saber quais são suas consequências. Portanto, o déficit público é importante, sim; o crescimento da dívida pública é um problema, sim; e o PIB precisa crescer mais rápido caso se queira tirar o país da pobreza e do atraso.

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