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No lançamento de sua campanha reeleitoral o presidente Lula acenou com o patrocínio de uma reforma política a ser lançada logo no início de um segundo mandato; sendo o aceno recolhido positivamente pelo principal grupo de oposição. De fato, o senador Tasso Jereissati, dirigente do PSDB, concordou com a prioridade, assegurando que se o escolhido for o ex-governador Geraldo Alckmin, ele também proporá essa mudança nas instituições como primeiro passo do mandato. A concordância bipartidária assinala a importância do tema, alçando a reforma política à condição de "mãe de todas as reformas" brasileiras.

É que na disfuncionalidade do sistema político brasileiro reside a maioria dos problemas que travam o desenvolvimento do país, segundo análise do professor Dionísio Dias Carneiro, destacado economista da Universidade Federal do Rio de Janeiro. O presidente Lula não detalhou os elementos que comporiam uma eventual reforma política, mas dois itens são consensuais: fidelidade partidária e financiamento público de campanhas. A ele agregamos a mudança do atual sistema proporcional para a eleição de deputados pelo voto distrital misto adotado com sucesso na Alemanha do pós-guerra. Porém, ainda mais relevante será a revisão do pacto constitucional – para equilibrar o papel dos entes federativos e corrigir a centralização de meios pela União Federal.

Nessa matéria, porém, como em outros fatos da vida, cumpre caminhar progressivamente, porque se quisermos fazer tudo nada será feito – conforme alertou em Curitiba na semana o professor Paulo Haddad, durante aula do programa de liderança patrocinado pela Federação das Indústrias do Paraná. Tem razão o ex-ministro do Planejamento: os chineses reformistas sob Deng Chiao Ping lançaram primeiro reformas que beneficiariam o maior número, depois se apoiaram nessa sinergia para dar outros passos, até construir um sólido consenso em favor da modernização, resultando na transformação da China em uma potência de classe mundial.

Entre nós a agenda disfuncional, que há duas décadas bloqueia a expansão e agora degenerou na corrupção sistêmica documentada a cada novo escândalo, começa na distorção de uma representação falseada. O atual governo tem parcela de culpa por ter substituído a construção de uma coalizão parlamentar legítima pela cooptação defeituosa do "mensalão", mas o presidente Lula mostra evolução no sentido correto ao admitir indiretamente a culpa, com a proposta de reforma política num eventual segundo mandato.

Tal importância e urgência serão evidenciadas para o eleitorado dentro de dois meses, quando o povo se defrontar com a complicada escolha de um nome para deputado federal e outro estadual entre milhares de candidatos inscritos em cada estado. Como decorrência, cumpre a todos tomar nota destas propostas de início de campanha, para cobrar das lideranças que forem eleitas o compromisso de apoiarem efetivamente a reforma política.

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