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A presidente da Petrobras, Graça Foster, mudou na segunda-feira a versão oficial que a Petrobras vinha defendendo a respeito de denúncias de propinas pagas por uma empresa holandesa à estatal e seus funcionários. Graça admitiu que há algum tempo já tinha confirmação de que a SBM Offshore, uma das maiores produtoras de plataformas petrolíferas do mundo, realmente havia subornado gente da Petrobras para conseguir contratos de fornecimento de equipamentos à estatal brasileira.

A revelação de Graça Foster já não esconde uma curiosidade e levanta uma indagação. A curiosidade: uma comissão interna, por ela nomeada em fevereiro, trabalhou 45 dias, fez viagens ao exterior, escarafunchou documentos e concluiu que tudo estava dentro da "conformidade", chegando à espantosa conclusão de que não havia nada nem ninguém a punir. Mesmo depois de a SBM ter fechado um acordo com o Ministério Público na Holanda, comprometendo-se a pagar US$ 240 milhões para escapar de processos por ter recorrido a subornos (não apenas no Brasil, mas também na Guiné Equatorial e em Angola), a Petrobras insistiu na versão do "nada consta", tendo divulgado na sexta-feira passada um comunicado reforçando os resultados inconclusivos da comissão de fevereiro.

A pergunta: se, depois de algum tempo, a presidente da Petrobras soube que, em suas palavras, "havia, sim, pagamento de propina", graças tão-somente à delação da sua contratada holandesa, por que só agora Graça traz a notícia a público, acrescentando apenas a informação relevante, porém secundária, de que a SBM não mais poderia se inscrever em novas licitações da Petrobras enquanto não informasse também o nome dos subornados? Graça poderia muito bem ter se antecipado – em uma época na qual as denúncias sobre o petrolão ainda não tinham assumido as assustadoras proporções que vemos agora – e, num espírito de transparência, ser a primeira a dar a notícia, acrescentando o anúncio de medidas para evitar que episódios semelhantes voltassem a ocorrer. No entanto, Graça Foster preferiu segurar a informação constrangedora, assim como fez o governo federal com indicadores negativos que poderiam ser usados como munição pelos adversários de Dilma Rousseff na campanha eleitoral e acabaram divulgados só depois de confirmada a reeleição da presidente da República.

E, se Graça Foster ficou sabendo por terceiros do propinoduto, terá também sabido mais a respeito de outros malfeitos que ocorriam há tanto tempo sob as águas turvas da companhia que dirige? Se sabia e sabe, torna-se pertinente também indagar: por que não partiram dela outras iniciativas para o esclarecimento total e transparente dos fatos, de forma a evitar que a mais importante estatal brasileira precisasse ficar sangrando sob as inquietantes delações premiadas da Operação Lava Jato?

A admissão tardia de Graça Foster, feita só depois do acordo da SBM na Holanda (e três dias depois de a Petrobras insistir na história de que a comissão de investigação não tinha encontrado nada), soa como mera tentativa de evitar danos ainda maiores à imagem da empresa. Mas é tarde: são evidentes os prejuízos decorrentes da inação e da postura de avestruz. A companhia se desvaloriza a cada dia, como demonstram as cotações descendentes de seus papéis na bolsa; os investidores se retraem, espalhando reflexos sobre toda a economia nacional. Acrescente-se a esses absurdos o fato de a Petrobras ter deixado até de apresentar o balanço do terceiro trimestre de 2014, tal a balbúrdia imperante que tornou impraticável fazer a distinção contábil entre lucros e perdas. A admissão de que a presidente da estatal sabia dos casos de propina e passou meses sem confirmar as acusações só contribui para abalar ainda mais a credibilidade da Petrobras diante do mercado e, principalmente, dos brasileiros, obrigados a ver a maior empresa do país neste estado lamentável.

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