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Decifra-me ou te devoro, disse a mitológica esfinge ao afobado passante. A oposição à presidente Dilma Rousseff e ao lulopetismo encontra-se prestes a ser devorada: incapaz de decifrar os enigmas, comporta-se de maneira errática, sem clareza de objetivos e, sobretudo, batendo cabeça em relação a propostas alternativas viáveis – inclusive do ponto de vista constitucional – que levem à saída do labirinto político no qual o país se encontra perdido.

Esse problema não nasceu hoje. Ao contrário, parece até fazer parte do DNA dos que perderam o poder em 2002, quando o PT elegeu Lula presidente pela primeira vez. O PSDB e seus aliados perderam a eleição e foram repentinamente transformados em oposição. Desde então, no entanto, passaram a se comportar como se tivessem caído do caminhão durante a mudança. E assim estão até hoje – nestes dias convulsionados, porém altamente propícios para uma prática oposicionista consistente e contundente.

Os tucanos não aprenderam com o adversário que os derrotou nas urnas, montado num discurso que, entre outros itens, abusou do “fora FHC” para defender o impeachment (que na época, curiosamente, não era sinônimo de golpe) do presidente Fernando Henrique Cardoso. O PT falava aos ouvidos da maioria da opinião pública de então. Mesmo acumulando erro atrás de erro, como o de não votar pela promulgação da Constituição de 1988; o de se opor ao Plano Real, o mais bem-sucedido programa de estabilização da moeda; ou o de ter lutado contra a aprovação da Lei de Responsabilidade Fiscal, o PT, na oposição, mostrou uma garra que soube conquistar fatias importantes e influentes da sociedade brasileira.

Falta quem venha a público, com coragem, denunciar os erros de Dilma Rousseff de forma inequívoca, sem rodeios

Mas, uma vez no governo, o PT de Lula e Dilma comportou-se como elefante na cristaleira. Um a um, os fundamentos macroeconômicos instituídos no período anterior foram sendo atropelados em nome de uma certa política anticíclica que, ao contrário do que fez o resto do mundo, gerou resultados fugazes de desenvolvimento. Passada a euforia, a realidade tomou cara: desajuste fiscal pelo excesso de gastos, juros subindo, desemprego em alta e inflação voltando com força. No campo político, o petismo acumulou escândalos atrás de escândalos, a começar pelo mensalão, um autêntico golpe contra a democracia brasileira, como atestaram ministros do STF que julgaram o caso.

E nada simbolizou mais a letargia da oposição quanto seu comportamento no auge do mensalão, quando o próprio Lula cambaleava. À época, o PSDB resolveu poupar o governo, esperando que ele “sangrasse” até 2006 e fosse derrotado. O resultado todos vimos: três vitórias consecutivas do petismo na disputa pela Presidência. Ainda hoje, a oposição dá mostras de sua incapacidade para verbalizar e agir de acordo com a grande maioria da sociedade revoltada com a corrupção, com a perda de poder aquisitivo, com a ameaça do desemprego e com a recessão que vai deixando vítimas pelo caminho. Falta quem venha a público, com coragem, denunciar os erros de Dilma Rousseff de forma inequívoca, sem rodeios. Em vez disso, as lideranças de oposição têm se esmerado em fazer discursos desconexos que não as qualificam como alternativas a “tudo isso que aí está”.

Um elemento importante que pode ajudar a explicar essa indecisão é uma incapacidade de fazer o confronto ideológico, diretriz de políticas econômicas que diferenciam a “esquerda” da “direita”. Afinal, só no Brasil um partido social-democrata seria considerado “de direita”. A verdade é que o país carece de partidos que defendam valores liberais e conservadores; mesmo quem não concorda com tais valores há de reconhecer que um debate político sério exige a participação de um espectro político amplo, em vez do leque pela metade, do centro à extrema-esquerda, que caracteriza a paisagem partidária nacional.

No vácuo causado pela falta de partidos que batam de frente com o ideário estatizante e pela hesitação da oposição formal em cumprir seu papel, surgem nomes como o do deputado Eduardo Cunha, presidente da Câmara, e o do Senado, Renan Calheiros, adeptos do velho manual de fisiologismo político decorado e praticado pelo PMDB. Ao povo, que vai às ruas para protestar contra o petismo, mas também não se sente plenamente representado pela oposição, resta a opção de prestigiar outros atores, como o juiz Sérgio Moro, eleito símbolo do que a sociedade mais quer: ética e moralidade na gestão pública.

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