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| Foto: FEDERICO PARRA/AFP

Nada é tão ruim que não possa ser piorado, diz um provérbio. A sabedoria popular encontra ecos na Venezuela. Não há uma semana em que o país não surpreenda negativamente. O cenário é caótico e beira uma tragédia repleta de absurdos, a ponto de um policial-ator sequestrar um helicóptero para jogar granadas contra prédios do governo.

Torna-se arriscado afirmar que o governo venezuelano chegou ao fundo do poço. Mas provavelmente está bem próximo disso, flertando perigosamente com uma guerra civil. Os números apontam para o pior. A violência está numa crescente há vários anos. O país ocupa uma ingrata segunda posição no ranking dos lugares mais inseguros do mundo, segundo dados do Observatório Venezuelano de Violência (OVV). Somente no ano passado, foram registrados 28 mil mortes em território venezuelano. Caracas, a capital, não fica para trás, com índices quinze vezes maiores que a média mundial. Nenhuma cidade a supera neste quesito.

Uma economia arrasada, instabilidade política, descrédito das instituições e racionamento de itens básicos são os geradores de tanta violência. Toda esta insatisfação ganhou as ruas com vigor nas últimas semanas. A violência tomou formas ainda mais preocupantes com o assassinato de 80 manifestantes. Centenas foram presos e mais de mil ficaram feridos durantes as manifestações que pedem, em grande parte, a saída do presidente Nicolás Maduro. Uma repressão brutal.

“Maduro assassino” e “Liberdade!” estampam os principais pedidos das ruas.

Como se vivesse em outro mundo, Maduro segue com seu projeto de destruição da sociedade. Anunciou, pela terceira vez seguida neste ano, um aumento do salário mínimo. Um acréscimo de 50% que tem resultado parco no dia a dia da população. De acordo com veículos locais, o valor de 97 mil bolívares equivaleria a 32 dólares, suficiente para pagar apenas um terço de uma cesta básica. Com uma inflação galopante, a “benesse” deverá chegar ao bolso do venezuelano completamente anulada. Para o presidente lunático, a espiral inflacionária é culpa de uma “guerra econômica” – de imperialistas externos e opositores internos - que promove a escassez de comida com o objetivo de desestabilizar seu governo. Não há qualquer autocrítica sobre as equivocadas políticas econômicas.

E o que oferece o governo para apaziguar a crescente onda de insatisfação? Derrubar a Constituição, chamando uma Assembleia Constituinte com o objetivo de dar ainda mais poder ao tirano chavista. “Se me derem a Constituinte, eu lhes dou a vitória sobre os preços”, promete Maduro, de acordo com a agência AFP. A consulta popular, que pode defenestrar de vez a atual assembleia e que tem maioria da oposição, está marcada para 30 de julho.

A oposição tenta contra-atacar também nas urnas. Nesta semana, anunciou para o dia 16 um referendo para saber a opinião da população sobre a mudança na Constituição. A aposição aposta num resultado positivo para aumentar o tom dos protestos nas ruas. O que promete, independentemente do resultado, mais instabilidade nos próximos dias.

Não se vislumbra uma solução imediata para o fim da instabilidade da Venezuela. E a saída de médio prazo, as eleições no fim do ano que vem, o horizonte e a esperança tênue com o qual muitos dos venezuelanos trabalham, pode estar sendo definitivamente excluída com a convocação da Assembleia Constituinte, apesar das promessas de Maduro de manter o pleito presidencial. Compreende-se, portanto, o esforço da oposição.

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