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O programa Unidade Paraná Seguro, a UPS, completou dois anos, sem velinhas e "parabéns a você". Mas bem merecia. Ao todo são dez unidades espalhadas pelas zonas violentas da cidade, um avanço. Não se pode esquecer que as políticas de segurança pública no Paraná vinham de uma década e meia de estagnação, o que fez com que os índices de criminalidade em Curitiba e Região Metropolitana chegassem ao topo dos rankings nacionais.

Tudo indica que as UPS reduziram em pelo menos 13% os índices de homicídios, garantem proximidade com os moradores e alteram a geografia da Polícia Militar, agora com o pé fincado onde deveria estar. O risco é que caiam na rotina, o que conta pontos para o crime, dono de um inacreditável poder de se recompor em meio à bonança. O crime tem saúde de ferro. Pode até dar uma trégua, mas retorna, glorioso, para reocupar suas zonas de conforto, seus canais de operação, seus círculos de confiança.

Matéria da Gazeta do Povo, publicada semanas atrás, mostrou o resultado do périplo pelas dez unidades locais. Com exceção das unidades do Uberaba – a primeira – e do Parolin, que goza da estrutura policial do bairro Rebouças, o aparato é modesto: são poucos policiais, sedes instaladas em contêineres, viatura única, limitações no atendimento à população em caso de ocorrência. Há onde falte até telefone. E sobram policiais frustrados diante do que julgam muito barulho por nada.

Em meio a tantas perdas e danos provocados pela epidemia de violência, um deles foi o desmanche do mito da cidade-modelo. Curitiba violenta? É o que todo mundo se pergunta. A capital mais festejada do país, exemplo de bom urbanismo, não conseguiu fazer com que esses avanços concorressem para a segurança. Pode ter apostado demais em carro. Pode ter sido complacente em demasia com a habitação pouco permeável com a rua. Pode ter negligenciado o perigo. Mais do que todas essas questões, impõe-se o fato de que Curitiba não conseguiu estender seus padrões de excelência para os municípios vizinhos, formando um dos maiores paradoxos urbanísticos do país. A periferia da capital e a RMC violenta, pobre e mal urbanizada são uma prova evidente de que o modelo municipalista não responde ao fenômeno das conurbações urbanas. Pensava-se que o bem-estar viria na esteira de praças e calçadões à curitibana. Algo deu errado na conta.

Deve-se destacar esses fatos para lembrar que se jogou uma carga muito pesada nas costas das unidades. No tabuleiro em que as UPS foram colocadas jogam o urbanismo, a educação, a infraestrutura, a saúde, sem os quais não há paz possível. Conforme chamou atenção a Gazeta do Povo em outras ocasiões, os índices de escolaridade nas zonas de UPS estão equiparados aos níveis mais baixos do país. Se uma força-tarefa educacional não for feita em paralelo, os jovens e adultos das regiões mais pobres continuarão à mercê da informalidade e, por azar, das ofertas de trabalho no mundo do tráfico.

Nesse cenário, pesa o fato de que as UPSs parecem amareladas e sem energia, vítimas da maleita, o rebotalho de uma festa prestes a acabar. Mas pesa tanto quanto a sensação de que a situação em que estão tem a ver com a falta de vitalidade da segurança pública em se espraiar para os demais setores, mobilizando todos os que são atingidos – e responsabilizados – por ela. Nesse quesito, continuam valendo as experiências de outros modelos de redução da criminalidade, em especial o colombiano. O país que se tornou espelho na redução da violência – e violência em escalas bélicas – gerou conhecimento sobre o assunto, pautou meio mundo, mas também enfrentou a "normalização" do crime. Aos poucos, tudo correu o risco de voltar a ser como antes. Foi preciso aprender a lidar com essa segunda etapa, trocar pneu com o carro andando, como se diz. Não há receituário, mas queima de massa cinzenta para lidar com uma situação inédita.

A expectativa em torno das unidades permanece, e nem poderia ser diferente. A UPS se tornou uma boa ideia, discutida na sociedade, um canal para que o cidadão comum saia da posição cômoda de observador da violência para se tornar um interessado. Esse canal mal chegou a ser aberto, apesar de desejado, sinal de que o crime volta à rotina. E a polícia também.

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