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As duras provações a que está sendo submetida a população japonesa desde a última sexta-feira, em razão do terremoto e, principalmente, do tsunami que varreu parte do país, ganham mais um ingrediente dramático: o perigo atômico derivado das avarias provocadas na usina de Fukushima pelos abalos sísmicos, onde dois reatores possivelmente apresentam derretimento parcial. O superaquecimento do núcleo do complexo gerador de energia elétrica já causou explosões que levaram à liberação de material radioativo na atmosfera. Apesar de as autoridades locais insistirem que a situação está sob controle, o acidente faz retomar em todo o mundo o espectro do pesadelo nuclear.

Não há como esquecer o ocorrido há 25 anos, em Chernobyl, antiga União Soviética, com o registro daquele que é considerado até hoje o pior desastre nuclear da história. Na madrugada do dia 26 de abril de 1986, a explosão de um dos quatro reatores da central atômica espalhou uma nuvem de radioatividade com poder mil vezes superior ao da bomba de Hiroshima, atingindo vários países da Europa. Apesar do tempo decorrido, os danos ao meio ambiente e à saúde de milhares de pessoas se fazem sentir até os dias de hoje.

Ainda que os episódios de Chernobyl e Fukushima sejam diferentes e, no caso japonês, de dimensão consideravelmente menor pelo que se avalia até agora, inevitavelmente vai provocar a volta da discussão sobre a construção de usinas nucleares. Atualmente no mundo existem mais de 400 delas em funcionamento em 31 países, sem a ocorrência de problemas e outras 45 estão em construção. Segundo dados da Agência Internacional de Energia Atômica, 14% da energia elétrica gerada no mundo já são derivados das usinas atômicas. A dependência é tanta que alguns países chegam a ter mais de 50% do seu suprimento energético a partir dessa fonte, como é o caso da França e da Bélgica. No caso do Japão, palco do recente acidente, a situação é emblemática: com 44 usinas em funcionamento, o país não pode prescindir dessa fonte energética para atender as suas necessidades. Mesmo o Brasil, que tem na geração hídrica sua principal matriz energética, também faz uso desse tipo de energia contando com duas usinas – Angra 1 e Angra 2 – e já está projetada a construção da terceira unidade.

Diante dessa realidade que se configura a princípio como sendo sem volta, a questão que se coloca de pronto é sobre as condições de confiabilidade com que elas operam. Até que ponto os mecanismos de segurança são efetivamente os mais adequados para fazer frente às eventuais emergências? No caso específico de Fukushima, apesar das condições tecnológicas do Japão, as medidas preventivas contra acidentes se revelaram falhas. Se é possível vislumbrar algo de positivo no incidente japonês, ele pelo menos serviu para acender a luz amarela entre os países que contam com usinas atômicas. Alemanha e a Índia já anunciaram que vão rever os seus padrões de segurança, no que devem ser seguidos por outras nações. Ainda assim permanece a dúvida sobre a capacidade humana de saber agir quando de acidentes dessa natureza. O melhor mesmo é que eles nunca ocorram.

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