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Principal aliado do PT, o PMDB vem se constituindo em um foco permanente de dor de cabeça para a presidente Dilma Rousseff. O cerne do descompasso se localiza particularmente na manifesta e conhecida vontade do partido de ocupar mais espaço no governo. Quando do episódio traumático da saída de Antonio Palocci da Casa Civil, os caciques peemedebistas vislumbraram a oportunidade de barganharem mais poder em troca do apoio para debelar a crise. Na mira da cobiça algumas dezenas de cargos importantes no 2.º e 3.º escalões, ainda não preenchidos.

Para tanto, o PMDB contou com o apoio do ex-presidente Lula, chamado às pressas como uma espécie de bombeiro para ajudar a debelar o princípio de incêndio que ameaça se alastrar pelo Palácio do Planalto. A receita recomendada por Lula, Sarney e companhia foi a mesma utilizada à exaustão nos oito anos de administração lulista: canais de acesso rápido para os aliados no governo e, principalmente, a distribuição dos cargos em aberto. Dilma se dispôs a ouvir mais a base aliada, mas não vem dando mostras de que pretende abrir mão da prerrogativa de preencher as vagas remanescentes com pessoas de sua confiança. As indicações da senadora Gleisi Hoffmann para o lugar de Palocci na Casa Civil e de Ideli Salvatti como ministra das Relações Institucionais, objeto de algumas ressalvas nos bastidores, sinalizam a disposição da presidente de impor sua marca no governo.

O arranjo que pelo menos por ora desanuviou a instabilidade que pairava sobre Brasília, não resolve a questão do apetite do PMDB, que não aceita a posição de mero coadjuvante no governo petista. Recado nesse sentido foi dado de forma clara nesta semana pelo líder do partido na Câmara, deputado Henrique Eduardo Alves (RN); segundo ele, seu partido disputou a eleição e saiu vitorioso junto com a presidente Dilma e, por isso, deve participar da gestão do governo com a indicação de nomes para a administração.

Na última terça-feira, a ministra Ideli Salvatti reuniu-se com os líderes peemedebistas e o tom da conversa foi o mesmo: as nomeações pedidas para os cargos vagos nos escalões menores, a liberação das emendas parlamentares que estão paradas e maior participação partidária nas decisões do governo.

O abacaxi de atender o guloso aliado e ao mesmo tempo manter a autonomia administrativa de Dilma parece que ficou para Ideli descascar. Uma missão difícil para a recém-nomeada ministra diante das pressões e os inúmeros pretendentes para um número menor de cargos. O risco político do imbróglio é o PMDB passar a assumir uma postura mais independente no Congresso, decidindo contra os interesses do governo. Tal rebeldia já ocorreu na votação do Código Florestal, quando o partido se colocou contra a posição do Planalto.

Um novo teste nas relações governo- PMDB parece estar reservado para a votação da medida provisória que propõe o Regime Diferenciado de Contratações (RDC) para acelerar as licitações para a Copa do Mundo de 2014. A respeito, dirigentes peemedebistas, entre eles o presidente do Senado, José Sarney, questionaram a MP que prevê a manutenção em sigilo do preço de referência das obras a serem licitadas. Dilma defende a aprovação da medida como está por entender que se trata de um avanço na sistemática das licitações por evitar a possibilidade de corrupção a partir do conluio de empresas.

A matéria já teve o texto básico aprovado na Câmara, mas será mesmo no Senado a queda de braço, uma vez que o governo não aceita mudar as regras do RDC, enquanto senadores peemedebistas já anteciparam que pretendem propor ajustes na MP. É mais um round que pode pôr mais lenha no fogo amigo que vem se tornando para o governo o seu principal aliado.

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