Sem surpresa, o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) anunciou nesta quarta-feira (7) mais uma alta da taxa básica de juros (Selic) em meio ponto percentual, elevando a taxa de juros para 14,75% ao ano. É o terceiro aumento consecutivo da Selic apenas neste ano, já com Gabriel Galípolo, indicado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), no comando do BC. Foi um aumento já esperado e que confirma a inércia do governo de Lula em adotar medidas para conter a inflação, tornando a elevação da Selic praticamente obrigatória.
O novo aumento era previsto desde a reunião anterior do Copom, em março, quando o colegiado sinalizou que, "em se confirmando o cenário esperado", faria "um ajuste de menor magnitude" na reunião seguinte. Como não houve mudanças significativas nos fatores que pressionam a taxa de juros – como a política fiscal e econômica do governo Lula –, a tendência se confirmou. Se agisse para interromper o ciclo de altas na Selic, Galípolo reacenderia, no mercado financeiro, as constantes dúvidas sobre sua independência em relação a Lula.
A aposta de Lula em estímulos populistas para injetar mais dinheiro na economia – serão cerca de R$ 150 bilhões a mais na economia até 2026 – e mantê-la aquecida impulsiona a alta de preços ao consumidor e atrapalha o efeito das altas de juros aplicadas pelo Copom
Trata-se do maior índice em 19 anos – a última vez em que a Selic atingiu esse patamar foi durante o primeiro mandato de Lula, em 2006, quando o BC era chefiado por Henrique Meirelles. Curiosamente, naquele ano de Copa do Mundo e eleições presidenciais – Lula acabou se reelegendo ao derrotar, no segundo turno, Geraldo Alckmin, hoje vice-presidente do petista – havia os mesmos problemas que hoje obrigam o Banco Central a aumentar os juros para tentar conter a inflação.
Assim como hoje, em 2006 o governo Lula abusava do aumento dos gastos públicos e incentivava o consumo, por meio de políticas de expansão de crédito (em 2004 foi criado o crédito consignado para aposentados e pensionistas do INSS, por exemplo) e dos programas de transferência de renda, como o Bolsa Família, além de pesar a mão na carga tributária ao setor produtivo.
Documento da Confederação Nacional da Indústria, publicado em dezembro de 2006, reclamava que “o crescimento das despesas do governo, em especial com gastos correntes, além de ser um entrave à queda mais significativa dos juros, foi acompanhado de aumento da carga tributária, que inibiu os investimentos privados”. Nada muito diferente do que vemos hoje. Em matéria de gastos públicos e política fiscal, os governos lulopetistas são bastante previsíveis em sua aposta no “gasto é vida”, independentemente do contexto.
Mas, em 2006, diferente do que vemos hoje, a taxa de juros estava em queda – em novembro daquele ano, passou de 14,75% para 13,75% e, em janeiro de 2007, para 13,25% –, enquanto agora a tendência é que a alta continue. A queda da taxa de juros foi possível porque a inflação naquele ano era outra: 3,14%; em 2025, o mercado avalia que a inflação ficará na faixa de 5,53%. E o valor da moeda nacional em relação ao dólar também era bem distinto do atual: em 2006, cada dólar era equivalente a R$ 2,18, enquanto hoje a cotação é de R$ 5,75. Ainda que a gastança lulista estivesse a toda em 2006, a economia conseguiu reagir melhor. Mas isso não deve se repetir.
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A aposta de Lula em estímulos populistas para injetar mais dinheiro na economia – serão cerca de R$ 150 bilhões a mais na economia até 2026 – e mantê-la aquecida impulsiona a alta de preços ao consumidor e atrapalha o efeito das altas de juros aplicadas pelo Copom, que tenta usar a desaceleração da atividade econômica como caminho para conter o avanço da inflação e reverter o ciclo de alta na taxa Selic, iniciado em setembro do ano passado.
O governo Lula insiste em reviver estratégias do passado, como se o contexto atual permitisse os mesmos atalhos fiscais e populismos de outrora. Mas a realidade de 2025 é outra, e os custos dessa teimosia já se impõem: juros que precisam crescer cada vez mais, inflação resistente, alta dos preços e perda de credibilidade. Difícil avaliar se ainda há espaço para corrigir o rumo – com seriedade fiscal e menos ideologia, talvez fosse possível. Infelizmente, o governo nunca se mostrou disposto a trocar o populismo pela responsabilidade – e os juros devem continuar nas alturas.