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O presidente do Senado, José Sarney, voltou atrás, ontem, na decisão de retirar da galeria de imagens da Casa o episódio do impeachment do presidente Fernando Collor de Mello. Na segunda-feira, quando da reinauguração do espaço, chamado de Túnel do Tempo, verificou-se que o registro do processo que levou ao afastamento de Collor havia sido suprimido. Um verdadeiro acinte contra a História republicana do país justificado por Sarney como um fato "não tão marcante" e "um acidente que não deveria ter acontecido". Como era de se esperar, a despropositada iniciativa acabou provocando uma onda de protestos, o que levou o político maranhense a anunciar que os textos e as fotos contando a saída traumática de Collor do poder retornarão à galeria permanente.

Um erro crasso foi felizmente corrigido, mas fica para reflexão o disparate que estava sendo cometido contra a vida democrática brasileira. Ou será que o impeachment de um presidente não é um episódio significativo de figurar numa galeria na qual supostamente devem estar os momentos mais importantes da vida democrática brasileira? Eleito com o bordão de ser um "caçador de marajás", o governo Collor de Mello foi marcado por uma sucessão de escândalos e suspeitas de corrupção. Denúncias que ganharam força a partir das revelações feitas pelo irmão, Pedro, dando conta da existência de um amplo esquema de tráfico de influência e negociatas, coordenado por Paulo César Faria, o PC, ex-tesoureiro da campanha de Collor a presidente. Seu impeachment, em 1992, pôs fim de forma melancólica ao primeiro governo eleito democraticamente no Brasil após quase 30 anos de governo militar.

Esse, em resumo, o alegado registro "pouco marcante" para o senador José Sarney e que não deveria constar da galeria dos eventos vivenciados pelo Senado da República. Com a sua pretendida disposição de rebaixar a um fato menor da História o caso Collor, o presidente do Senado também foi injusto com as manifestações populares que ocorreram por todo o país. Manifestações como as marchas promovidas por milhares de estudantes pelo Brasil a fora – uma geração que ficou conhecida por "caras pintadas" – que exigiam a saída do "caçador de marajás" em razão do mar de corrupção em que afundava o seu governo.

Há 50 anos na vida pública do país, Sarney é o exemplo mais bem acabado do tradicional político carreirista. Bem-sucedido durante o regime militar, não teve dificuldades maiores de se adaptar quando os ventos da democracia começaram a soprar no país. Do velho PDS que apoiava o governo militar oportunamente passou para o PMDB, culminando com sua indicação como candidato a vice de Tancredo Neves para a presidência da República. Quis então a historia que acabasse presidente em razão da morte de Tancredo que não chegou a assumir o cargo. Após um governo marcado pelos mais altos índices de inflação da história, Sarney continuou sua vida política no Senado, onde até hoje é uma espécie de tábua de salvação de governos em momentos de crise. Condição que parece lhe dar o direito de julgar o que é importante ou não na vida política nacional, inclusive a intenção de relegar o primeiro e único caso de impeachment da história da República brasileira a um fato menor.

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