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A viagem do presidente Lula ao Uruguai rendeu a assinatura de cinco acordos e afastou a ameaça de um racha no bloco econômico, quebrando um clima de expectativa fomentado também pela visita do presidente George W. Bush ao Brasil. Pode parecer pouco o que se conseguiu, mas foi um passo importante.

A ida de Lula ao país vizinho, que demonstrava insatisfação com a política externa brasileira, foi agendada em 2006, tendo como pontos principais, do lado uruguaio, receber investimentos em seus parques produtivo e energético, mais o fechamento de um acordo bilateral de comércio.

O presidente embarcou sobraçando sua política de ouvir e ceder quanto necessário, com claro propósito de acalmar o mais insatisfeito dos sócios do Mercosul. Como apontou o diretor do Departamento de América do Sul do Itamaraty, embaixador Ênio Cordeiro, o objetivo brasileiro era reverter o desencanto uruguaio com o Mercosul, manter o processo de integração e permitir que todos os seus integrantes tenham a percepção de que "há equilíbrio nos benefícios gerados pelo bloco". Sobre a chamada guerra das papeleiras, envolvendo o Uruguai e a Argentina, ficaria ao largo, até porque o Brasil já tinha se colocado à disposição das partes, caso houvesse interesse, para tentar facilitar os entendimentos.

Para o cientista político e historiador da Universidade da República do Uruguai, Gerardo Caetano, em entrevista à Agência Brasil, o governo brasileiro tem sido omisso com as economias de pequeno porte do Mercosul ao não conseguir criar "políticas que reduzam as assimetrias ao longo do tempo". Ou, mais diretamente, o Brasil não soube pagar "o preço da liderança na região". Mas, como reconheceu na mesma entrevista, o governo brasileiro tem plena consciência desse quadro e existe uma atitude "pró-ativa para acabar com as assimetrias".

As diferenças econômicas nos fluxos comerciais e na capacidade de investimento já vêm de algum tempo. Nota-se um grande contraste no intercâmbio comercial entre Brasil e as economias menores do bloco. No ano passado, no que tange o panorama uruguaio, ele foi quase 20 vezes menor que as trocas com a Argentina. A corrente de comércio com o Uruguai totalizou US$ 1,62 bilhão, contra US$ 1,34 bilhão em 2005, enquanto o fluxo comercial com a Argentina chegava a US$ 19,77 bilhões, contra US$ 16,15 bilhões no ano anterior. Como as importações ficaram em apenas US$ 618,22 milhões, ocorreu um superávit brasileiro de US$ 387,87 milhões, muito embora tenha sido registrado um crescimento das exportações uruguaias com destino ao Brasil. No ano passado, elas subiram 24%.

Ainda na avaliação do historiador uruguaio, o encontro entre Lula e Tabaré Vázquez, na cidade de Colônia do Sacramento, pode ser o sinal de disposição do governo brasileiro em reduzir os desequilíbrios comerciais, até porque Montevidéu tem cobrado constantemente medidas para zerar o déficit comercial.

As diferenças, no entanto, não chegam a assumir uma dimensão assustadora. Até porque, conforme a Comissão Setorial do Mercosul (Comisec), instituição ligada ao governo uruguaio, 90% das exportações uruguaias para o mercado brasileiro não apresentam entraves.

Como acentuam diversos analistas, há mais pontos de contatos e aproximação entre o Brasil e o Uruguai do que de rejeição ou exclusão. Bastaria eliminar as tais assimetrias.

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