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Ao empossar o novo ministro da Defesa, Nelson Jobim, no bojo da desconfiança desencadeada pelo último acidente aéreo, o presidente Lula reconheceu que "a crise abriu espaço para mudanças difíceis". Entre essas mudanças está a reforma política, visando a aperfeiçoar as instituições no rumo de uma democracia de resultados – única forma de governo compatível com o mundo contemporâneo. Esta é a expectativa para que o Brasil deixe de ser um país de futuro e efetive de vez essa promessa sempre adiada.

Para isso, o primeiro passo consiste em mudar o enfoque que tem marcado as decisões do governo desde sua investidura original, com o abandono do viés ideológico que embaraça o desempenho do grupamento liderado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O foco deve dado à construção de uma nação moderna e não à manutenção do poder. Também é preciso que o governo respeite os cidadãos brasileiros, abandonando gestos como o do assessor especial de Assuntos Internacionais da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, desrespeitoso para com as vítimas do acidente de Congonhas.

Flagrado naquele gesto insólito, Garcia tratou de acusar a mídia e a classe média, afirmando que as críticas partiam de um grupo inconformado com a vitória de Lula em duas eleições. De fato, o presidente só ganhou em 2002 e 2006 porque amplos setores da classe média lhe confiaram os votos, assim como os "excluídos" que hoje parecem ocupar a totalidade das atenções governamentais.

O economista José Pastore, em recente palestra proferida em Curitiba, atribuiu a orientação populista do governo Lula ao projeto de continuidade no poder da agremiação liderada pelo presidente. Contudo, a razão parece estar também com acadêmicos que enxergam na administração um viés pré-capitalista, ancorado no passado distante. Agora, com a crise, o presidente Lula reconhece que "o governo não pode ficar falando o que acha, o que pensa e que a ele cabe a responsabilidade de fazer". A apatia prática de que sofre o governo tem raiz no assembleísmo, que originalmente deu vitalidade ao Partido dos Trabalhadores, mas que agora se revela ineficiente para o ofício de governar.

O fato é que, ao exibir baixo nível de coordenação, o governo perde condições de influenciar um projeto de continuidade, ademais rejeitado pelo bom senso dos brasileiros. Lições de outros países evidenciam que após fases de instabilidade as sociedades se inclinam à mudança de comando na administração pública: nos Estados Unidos, boa parte dos votos da "América profunda", que deram a reeleição ao presidente George W. Bush em 2004, hoje parecem migrar para seus opositores democratas; na França, o novato Nicolas Sarkozy foi eleito com o apoio maciço da direita, do centro e até da esquerda, numa demonstração clara de que a população está apostando menos na ideologia e mais na alternância de poder para encarar seus problemas.

Se enfrentar a crise para "fazer o que precisa ser feito", o governo do presidente Lula poderá reencontrar a sintonia com a sociedade a tempo de retomar a tarefa de conduzir o Brasil para o futuro esperado pelos brasileiros.

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