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Matéria publicada na última semana pela Gazeta do Povo voltou a colocar em discussão um tema ainda distante de um consenso. Trata-se da questão da grande quantidade de armas em poder dos brasileiros, mesmo com a entrada em vigor do Estatuto do Desarmamento, em 2003. A ampla reportagem traz números que impressionam como o fato de que em sete anos – desde a vigência do estatuto – mais de 500 mil armas em poder de civis foram retiradas de circulação. Em contrapartida, a indústria de armamentos produziu 5,7 milhões de unidades, sendo que 700 mil delas foram colocadas à venda no mercado interno.

Sem querer aqui emitir um juízo de valor sobre a relação entre armas e criminalidade, algumas evidências não deixam de preocupar. Foi citado, a propósito, o fato de o Brasil ter hoje uma arma para cada 13,7 habitantes e registrar por dia 94 mortes decorrentes do seu manuseio e 34 mil por ano. Além disso, oito entre dez armas apreendidas no país são mesmo de fabricação nacional e não importadas como inicialmente se pensava.

Enquanto a discussão sobre os prós e os contras o armamento ou desarmamento no país se mantém acirrada entre partidários e adversários das armas, uma questão maior não pode ficar de lado: a necessidade de o Estado brasileiro partir para ações efetivas de combate à criminalidade e de sua prevenção. Promessas de candidatos às vésperas de eleição não faltam com um sem-número de propostas de como acabar com a violência e que, via de regra, ficam mesmo só na promessa. Independentemente da existência ou não de armas demais em mãos da população, é inegável a existência no Brasil de um quadro estrutural de favorecimento da violência de maneira endêmica, para o qual concorrem diretamente fatores sociais como a fome, a desigualdade e a exclusão social. Diante de uma realidade tão dramática da violência, o problema das armas é mais um, mas não o maior deles.

Ainda que o Brasil tenha contabilizado nos últimos anos alguns avanços na luta contra o crime, a verdade é que estamos longe de vislumbrar, no curto ou médio prazo, uma condição de mais segurança para o cotidiano dos brasileiros. A necessidade de mais investimentos para o reaparelhamento dos organismos policiais, tanto em termos materiais como de pessoal é o ponto de partida na difícil empreitada. Nesse contexto, o combate ao tráfico de drogas deve ser encarado como questão prioritária pelas estreitas relações com o crime organizado. Aí cabe ao governo federal a iniciativa de ações de inteligência em parceria com os estados, de forma a se estabelecer uma estratégia nacional contra a ação dos traficantes. Operações pontuais como as que vêm sendo realizadas nos morros do Rio de Janeiro mostram que é possível infligir derrotas contundentes aos criminosos. Porém só com operações articuladas de longo prazo será possível vencer a guerra contra o narcotráfico. Este estende seus tentáculos a partir do exterior, atravessa as extensas fronteiras nacionais e se dissemina pelas cidades brasileiras. Além da presença da droga no mercado interno de forma cada vez mais intensa, a realidade também mostra que o Brasil já virou rota para o tráfico internacional. Cocaína, maconha e outras substâncias entram no território brasileiro via Paraguai, Colômbia, Bolívia e Peru antes de seguir para a Europa e os Estados Unidos. Contra esse cenário complexo que predispõe à ação criminosa é preciso agir, e rápido.

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