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Arrancada final
| Foto: Rafael Neddermeyer/Fotos Públicas

O boletim Focus, publicado toda segunda-feira pelo Banco Central e que reúne as expectativas do mercado financeiro para uma série de indicadores econômicos, está mostrando uma tendência neste fim de 2019: enquanto um mês atrás as previsões para o crescimento do PIB neste ano estavam abaixo de 1%, em média (mais precisamente, 0,92%), no boletim divulgado na última segunda-feira, dia 16, as estimativas subiram 0,2 ponto porcentual e agora estão em 1,12%. Da mesma forma, as previsões para o PIB de 2020 também tiveram leve aumento, passando de 2,17% há quatro semanas para 2,25% no boletim mais recente.

Há vários indicadores apontando que “o processo de recuperação da economia brasileira ganhou tração”, para usar o palavreado do comunicado do Copom após a reunião que baixou os juros básicos para 4,5% ao ano. Na sexta-feira, o Banco Central divulgou o IBC-Br de outubro, com aumento de 0,17% na comparação com setembro. Ainda que um pouco abaixo das expectativas de mercado, o indicador, considerado uma “prévia do PIB” (este, por sua vez, medido pelo IBGE), já registra 0,95% de crescimento nos primeiros dez meses de 2019, tornando bem plausível a possibilidade de terminar o ano acima de 1%. Também em outubro, o IBGE tem medido aumentos na produção industrial (que mesmo assim deve terminar o ano em queda), nos serviços e no varejo – este último aumentou recentemente a previsão para as vendas do Natal deste ano, que agora devem ser 5,2% maiores que no ano passado, segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). A antecipação da liberação de saques do FGTS deve contribuir para este desempenho.

É imprescindível que o país continue caminhando no sentido de realizar reformas e enxugar o tamanho do Estado

Se a previsão do mercado efetivamente se cumprir e esta arrancada de fim de ano fizer o país crescer ligeiramente acima de 1% em 2019, há motivo para alguma comemoração, já que até pouco tempo atrás governo e mercado trabalhavam com um crescimento de apenas 0,9%. Mas restam desafios enormes pela frente, como a recuperação da produção industrial e, especialmente, o combate ao desemprego, pois a pior das chagas da recessão legada ao país pelo petismo continua em dois dígitos, apesar das centenas de milhares de novas vagas com carteira assinada geradas em 2019.

Os juros mais baixos devem facilitar a retomada dos investimentos privados, que ajudam a gerar emprego e renda – pesquisa da Confederação Nacional da Indústria mostrou que 84% das empresas têm intenção de investir em 2020. Novas rodadas de concessões de infraestrutura devem atrair mais capital estrangeiro para o país, que também considera a possibilidade de mudar o regime de exploração do pré-sal para evitar decepções como a do recente megaleilão. A continuação das reformas e a aprovação das PECs de ajuste fiscal enviadas recentemente pelo governo ao Congresso Nacional ajudarão a restabelecer a saúde fiscal do Brasil, tornando-o mais atrativo. O risco-país continua regredindo, embora ainda seja improvável que tenhamos a recuperação do grau de investimento já em 2020, por mais que o ministro da Economia, Paulo Guedes, deseje para logo o selo de bom pagador que o Brasil ostentou por alguns poucos anos.

É imprescindível que o país continue caminhando no sentido de realizar reformas e enxugar o tamanho do Estado, liberando recursos para investimentos públicos e, especialmente, privados. O crescimento para os próximos anos previsto no Focus desta segunda-feira, na casa dos 2,5% para 2021 e 2022, pode não ser tão impressionante quanto os desempenhos registrados no período de 2004 a 2011, mas um crescimento gradual, constante e sustentável é preferível a picos de crescimento conquistados por meio de uma política econômica irresponsável, e que acabou levando o país a uma recessão que apagou praticamente toda a evolução daquele período.

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