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Fazer a coisa certa ou salvar a presidente Dilma Rousseff? Era esse o dilema que o PT enfrentava com a votação, no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados, que pode levar à abertura de um processo de cassação contra o presidente da casa, o peemedebista Eduardo Cunha. As reuniões do conselho ocorridas na terça e na quarta-feira não foram suficientes para uma definição sobre o tema, que ficou para o próximo dia 8. Mas a ação de Cunha, que declarou na quarta-feira ter aceito um pedido de impeachment de Dilma, tornou a decisão muito mais fácil para o partido.

A posição petista, no entanto, já tinha sido definida – e não há dúvidas de que ela foi decisiva para que Cunha resolvesse dar o passo definitivo do acolhimento do pedido de impeachment. Os três petistas do Conselho de Ética votariam pela admissibilidade do processo contra o presidente da Câmara.

Como Rui Falcão passou de fiador do “acordão” a instigador da ruptura?

E nessa tomada de posição foi crucial a intervenção do presidente da legenda, Rui Falcão. Uma guinada considerável – afinal, o próprio Falcão tinha sido um dos artífices, ao lado do ex-presidente Lula, do “acordão” que buscaria preservar os mandatos tanto de Cunha quanto de Dilma. Falcão agira para arrefecer os ânimos da bancada petista, a ponto de apenas metade dos deputados da legenda ter assinado o pedido de cassação protocolado pela Rede Sustentabilidade e pelo PSol.

O pragmatismo, opção preferida do Palácio do Planalto por razões óbvias, estava prevalecendo. Acima de tudo estava a necessidade de manutenção do mandato de Dilma, e para isso valia inclusive tolerar o que viesse de Cunha. Não importava que ele tivesse quebrado o decoro parlamentar mentindo a uma CPI à qual o deputado se apresentou de livre e espontânea vontade: importava apenas que Cunha fosse deixado em paz para que, em um ato de cúmplice reciprocidade, deixasse Dilma em paz, protelando indefinidamente uma decisão sobre os pedidos de impeachment na mesa do presidente da Câmara.

Mas algo aconteceu nos últimos dias. Na terça-feira, enquanto o Conselho de Ética se reunia para tratar do caso de Cunha, Falcão tuitava: “Confio em que nossos deputados, no Conselho de Ética, votem pela admissibilidade” – ou seja, contra Cunha.

Horas antes do tuíte de Falcão, o paraense José Geraldo, um dos deputados do PT no Conselho de Ética, ainda defendia que ele e seus colegas fizessem um “sacrifício pelo país” votando em defesa de Cunha. Dois ministros, Ricardo Berzoini (secretaria de Governo) e Jaques Wagner (Casa Civil), tentaram convencer os parlamentares a não entrar em rota de colisão com o presidente da Câmara. A mensagem de Falcão, no entanto, mudou tudo.

A pergunta é: por quê? Como Falcão passou de fiador do “acordão” a instigador da ruptura? Uma coisa é sabida: o presidente do PT não dá um passo sem combinar com Lula, o que faz do ex-presidente um coautor da estratégia. Por que ambos aceitariam o embate com Cunha, cientes de que a resposta viria na forma do processo de impeachment? Seria arriscado demais colocar Dilma na fogueira apenas para desviar a atenção de uma Operação Lava Jato que se aproxima cada vez mais de Lula. Mais plausível seria o PT ter concluído que era preciso romper o ciclo infinito de chantagem e provocar o conflito na certeza de que o governo tem votos suficientes para fazer o impeachment naufragar na Câmara ou no Senado. Seria o melhor dos mundos para o PT, que se livraria de Cunha (votando contra ele, o que ajudaria o partido diante da opinião pública e da militância) e ainda salvaria Dilma. Mas o desespero que o governo mostrou para manter o “acordão” revela que o Planalto não está tão seguro assim.

No fim, trata-se de um cálculo complexo, que envolve a imagem pessoal de cada parlamentar petista, a imagem do partido (que está sob cerco, envolvido em inúmeros escândalos já julgados e por julgar) e o mandato de Dilma. A decisão sobre o que é prioritário preservar e o que pode ser sacrificado norteia as escolhas de Lula e Falcão, cujas motivações não são nada evidentes.

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