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A visita da nova presidenta do Chile, Michele Bachelet, foi oportuna por recolocar na ordem do dia um tema atual: a possibilidade de um país pequeno, mas bem governado, superar o desafio da globalização e melhorar seus níveis de desenvolvimento e bem-estar social, num clima democrático. O sucesso chileno contrasta com as dificuldades enfrentadas por países que, ao adotarem uma estratégia defensiva, colhem fracassos capazes de afetar suas populações por décadas a fio.

O caso mais vivo é o do Zimbábue, país africano que enveredou por uma rota de contestação logo após se tornar independente. Em vez de superar o passado colonial, o governo radical de Robert Mugabe passou a hostilizar os opositores e fechar as fronteiras – tentativa autárquica que resultou em miséria e crise. Hoje as epidemias e a aids grassam pelo território e a expectativa média de vida recuou para 35 anos.

Em nosso entorno também se multiplicam países que se refugiam nessa estratégia defensiva de negar a modernidade. O fenômeno se expressa num populismo autoritário que para, se sustentar, hostiliza a elite socioeconômica e busca inimigos supostos ou imaginários no exterior. Infelizmente, essa postura negativa ganha expressão até em nações da Europa: a França e a Itália enfrentaram dificuldades recentes e Portugal não logrou se recuperar da disciplina fiscal imposta pela moeda comum, o euro.

Mesmo o Brasil enfrenta riscos, sobretudo porque a estagnação das décadas perdidas no fim do século 20 persiste sob o atual governo, encolhendo a classe média. Esse segmento intermediário perdeu participação no PIB, tendo recuado de 31% para 27% da população economicamente ativa – o que afetou 10 milhões de pessoas. Enquanto isso países vitoriosos na estratégia de inserção global – notadamente China e Índia nos anos recentes – exploram brechas no mundo exterior e, crescendo ano a ano de forma sustentada, reduzem a pobreza e ampliam a classe média.

Nos sul-americanos, a estratégia defensiva coloca em risco a estabilidade democrática – assentada no pluralismo das correntes partidárias, equilíbrio entre os ramos do poder político e garantia das liberdades de expressão. Por isso a presidenta chilena destacou a cláusula democrática num Mercosul ampliado, onde a dinâmica da integração pode gerar a sinergia econômica capaz de amenizar os efeitos da mudança global. Segundo Michele Bachelet, por representarem o ponto de equilíbrio na região, Brasil e Chile devem somar esforços para assegurar a democracia e o combate à exclusão social.

Claro que é preciso qualificar as situações. Para o professor John Schulz – brasilianista que esteve em Curitiba para proferir conferência na Federação das Indústrias – muitas vezes falta escala para um ator nacional tentar influir. Como saída a nova presidenta do Chile propõe a integração entre os sul-americanos, vantagem que permitiria à região, organizada sob uma democracia estável, atuar como "global player" ante a comunidade internacional.

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