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A eleição da médica e ex-ministra Michelle Bachelet, para a presidência do Chile, traz uma lição para os países sul-americanos: a de que é possível construir, passo a passo, o desenvolvimento de uma nação dentro do marco democrático, havendo convergência de vontades e determinação para avanços pequenos, mas firmes, no rumo escolhido. Em contraste com ruidosas ocorrências em outros países, a jornada eleitoral chilena transcorreu sem emoção maior: os eleitores estavam conscientes de que haveria poucas mudanças, qualquer que fosse o candidato vitorioso.

Bachelet foi eleita por uma coligação de centro-esquerda, a "Concertação Democrática", formada entre os socialistas e democratas cristãos (que juntamente com a outra coligação, a "Aliança" do candidato Sebastião Piñera, junta mais de 90% do eleitorado do país), para superar o trauma do período autoritário sob Pinochet. Nesse caminho para a transição democrática os chilenos repetiram o processo de estabilização iniciado na Espanha com o Pacto de Moncloa, que consolidou a democracia após o franquismo.

Ambas as nações, tanto a pátria-mãe européia como a andina, sofreram muitos dramas durante os respectivos regimes ditatoriais e souberam realizar a transição sob um acordo bem sucedido que uniu as principais forças políticas, comprometidas com a restauração da democracia.

No Chile desde então a Concertação vem elegendo sucessivamente seus candidatos presidenciais, incluindo o democrata-cristão Patrício Aylwin e, por último, o socialista moderado Ricardo Lagos. O denominador comum é que eles tiveram sucesso em conservar pontos positivos do regime autoritário, tais o equilíbrio fiscal, a privatização da previdência e a busca de mercados externos que livraram o país da instabilidade crônica anterior.

Desde a redemocratização, o Chile tem paulatinamente melhorado seu crédito externo, retomado o crescimento e promovido uma difusão social que reduziu a pobreza, em bases mais firmes do que projetos assistencialistas de muitos países latino-americanos. Sobretudo, seus líderes exibem um perfil amadurecido em dia com a realidade de um cenário globalizado e competitivo, superando a retórica do nacionalismo "terceiro-mundista" incapaz de assumir sua responsabilidade no esforço para a construção nacional; linha que, infelizmente, conta com seguidores inclusive aqui.

A lição do pleito chileno mostra que uma política de bom nível e apresentando continuidade de ações tem meios para desenvolver a sociedade e reduzir a pobreza, mesmo em um país de pequeno porte. Quanto ao futuro, destaca-se que a gestão Bachelet, a primeira mulher a liderar o país, buscará ajustar falhas do modelo vigente – apoiando por exemplo, melhor assistência médica para famílias pobres e previdência para trabalhadores terceirizados. No âmbito internacional a nova presidenta deverá ampliar o relacionamento do Chile com a América do Sul, notadamente com a "esquerda pragmática" que governa o Brasil, Argentina e Uruguai – boa notícia para consolidar nossa integração via Mercosul.

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