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A minissérie sobre a biografia de JK – que a Rede Globo vem apresentando desde a semana passada – recria uma idade de ouro para o Brasil, quando a estabilidade democrática se juntou ao crescimento econômico, deixando para os sucessores o desafio de exercerem a liderança com um otimismo confiante raramente observado no país. Mas a era Juscelino também trouxe lições, sobretudo a de que o desenvolvimento deve ter consistência, sob pena de repetir o ciclo de "avanço e frenagem" que permeia nossa História.

Essa equação continua aberta até hoje, compondo o principal desafio dos postulantes à eleição presidencial, incluído o atual ocupante do Palácio do Planalto. Porque se o governo Lula conseguiu reduzir as pressões inflacionárias que ameaçavam desorganizar as contas públicas e o balanço de pagamentos, não logrou retomar um nível de atividade capaz de absorver os milhões de trabalhadores potenciais que chegam ao mercado a cada ano – multiplicando problemas sociais na cidade e no campo.

Os principais partidos adversários, PSDB, PFL e PDT, já exploram esse ponto fraco, anunciando que suas plataformas eleitorais vão enfrentar a questão com determinação e realismo. Para os "tucanos", trata-se de propor um programa que evite a armadilha dos juros altos e do câmbio desnivelado, a seu ver os principais responsáveis pelo crescimento medíocre dos últimos anos. A alternativa não é simples, requerendo um sentido de continuidade que se choca com nosso "ethos" de mudança improvisada, verdadeira síndrome explicada por alguns pensadores pela influência do clima tropical, etc.

Para o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, não houve descontinuidade de esforços na busca de metas inflacionárias compatíveis com fundamentos sólidos para a economia. Fazendo uma defesa enfática de sua atuação como autoridade monetária, o banqueiro oficial assegura que os juros no Brasil são conseqüência e não causa de nossos problemas. Nessa linha os três anos de administração econômica responsável atendem aos objetivos de reforçar as reservas e reduzir a exposição cambial da dívida, diminuindo a vulnerabilidade anterior do país.

Esse aliás foi o aspecto negativo dos anos dourados sob o presidente Juscelino (1956/60). No início seu Plano de Metas para construção de estradas e de usinas hidrelétricas, mais industrialização acelerada via lançamento da indústria automotiva e de bens de consumo intermediários, além da transferência da capital para uma Brasília construída em ritmo alucinante, transformou o Brasil num canteiro de obras. Porém o financiamento descuidado desses projetos acumulou um déficit público crescente que ampliou a dívida pública, fez a inflação explodir, gerou insatisfação interna da massa de trabalhadores e crise externa de pagamentos.

O vendaval de problemas impediu JK de colher os frutos de seu desenvolvimentismo, sendo o governo empolgado pelo aceno de um populismo saneador sob Jânio Quadros, cuja instabilidade política ensejou o ciclo autoritário de 1964/85. Tais elementos históricos mostram como será difícil a escolha do eleitorado neste ano.

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