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A cada dia fica mais difícil o governo federal ignorar o aparelhamento do Ministério do Esporte pelo PC do B e os indícios de irregularidades na implementação do programa Segundo Tempo. As denúncias publicadas pelo jornal O Estado de S. Paulo, de domingo para cá, mostram supostos esquemas de desvio de verbas, cobrança de comissão por integrantes do PC do B, e renovação de convênio com entidades que não cumpriram metas.

Diante dessas denúncias, cabe à presidente Dilma Rousseff determinar medidas enérgicas para resolver a questão, a fim de cumprir com o que declarou em seu discurso de posse, quando disse que governaria "sob a égide dos valores republicanos", que seria "rígida na defesa do interesse público" e que "não haveria compromisso com o erro, o desvio e o malfeito".

O Ministério Público Federal iniciou investigações em um dos casos apontados pelo Estadão, referente a uma entidade dirigida por integrantes do PC do B no Piauí que recebeu R$ 4,2 milhões para gerir o Segundo Tempo naquele estado, mas que, na prática, deixou abandonados os núcleos esportivos do programa. Entretanto, as denúncias feitas pelo jornal também dão conta de irregularidades em outros estados, como Rio de Janeiro, São Paulo, Goiás e Santa Catarina, o que pode indicar problemas estruturais na gestão do programa no país.

Diante de denúncias que atingiram a pasta e pressionado pelo Planalto, o ministro Orlando Silva declarou, na terça-feira, que irá abrir sindicância para apurar as suspeitas que rondam o programa. Entretanto, sindicância interna é muito pouco. Para se esclarecer as denúncias que pesam contra os gestores do Segundo Tempo no Ministério dos Esportes, seria importante que Dilma determinasse que os órgãos fiscalizadores do governo federal, como a Controladoria-Geral da União, fizessem uma análise minuciosa da execução do programa nos estados. Até porque, caso as denúncias continuem no ritmo que estão ocorrendo, é possível que a situação política de Orlando Silva se torne insustentável no ministério.

Se o discurso de posse da presidente for um compromisso com a sociedade – e não mera retórica –, ele deveria ser aplicado ao caso da pasta de Esporte.

Ciente das denúncias, a presidente Dilma Rousseff pode dar um tratamento ao estilo "todos são inocentes até que se prove o contrário" e dizer que vai esperar o resultado das investigações, porque não quer tomar nenhuma decisão precipitada. Essa escolha agradaria aos aliados integrantes do PC do B, que poderiam manter seus postos no ministério e estariam – ao menos por enquanto – a salvo de um constrangimento nacional.

Essa opção seria também a prova de que o discurso de posse era uma peça romântica, produzida para causar efeito emocional, mas não para ser seguida de fato. Demonstraria que o governo federal se submete ao aparelhamento de ministérios por aliados, mesmo quando expostos pela imprensa, sem qualquer compromisso com os princípios republicanos.

Quando há fortes indícios de irregularidade – o que parece ser o caso –, não há a necessidade de se esperar definição judicial. Muito menos aguardar que novas denúncias venham expor ainda mais a gestão de Orlando Silva no ministério, ou mesmo esperar resultados da investigação do MP, para só então agir. Essa "prudência" pode ser vista como uma omissão do Poder Executivo no compromisso assumido na posse de "rígida defesa do interesse público".

O segundo caminho possível seria Dilma Rousseff cumprir com seu discurso e demonstrar que, de fato, não haverá "compromisso com o erro, o desvio e o malfeito". Para tanto, precisaria dar uma resposta rápida à sociedade – com investigação e punição dos responsáveis. Assim mandaria um recado esclarecedor aos partidos aliados e à sociedade. Indicaria que a defesa do interesse público se sobrepõe a interesses políticos partidários, e que o governo não vai ficar passivo diante dos "deslizes" e irregularidades de aliados na implementação de políticas nos ministérios que controlam.

Caso tome medidas nesse sentido o seu ato valerá mais que mil palavras em favor da moralidade pública, dos princípios republicanos e da intransigência com a corrupção.

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