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Isoladamente, é perfeitamente aceitável ter um ano de crescimento pífio do PIB. Mas os números de 2012 podem revelar problemas graves no sistema econômico brasileiro

O crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2012 não foi apenas baixo: foi baixíssimo. Para quem pensava crescer 4% no ano, como previa o ministro da Fazenda, Guido Mantega, a notícia de que o IBGE pode anunciar uma taxa final abaixo de 1% é algo profundamente desalentador. Não se trata de achar que o Brasil não pode amargar um ano de crescimento pífio do PIB. Isoladamente, é perfeitamente aceitável que isso ocorra. A questão é que um crescimento tão inexpressivo pode revelar problemas graves no sistema econômico brasileiro.

A primeira questão que o mau desempenho do PIB em 2012 levanta é saber se o Brasil está destinado a ter crescimento à moda do "voo da galinha", isto é, baixo e curto. Voo de galinha é, por definição, não sustentável porque essa ave não tem estrutura fisiológica capaz de lhe dar propulsão, sustentação e resistência. Para os economistas, a expressão "crescimento sustentado" significa aumento anual do PIB a uma taxa superior à taxa de aumento da população, e esta deve ficar perto de 1,1% em 2012 – ultrapassando, portanto o aumento do PIB.

A analogia com a galinha serve para descrever uma economia que não tem os pilares capazes de proporcionar crescimento elevado, estável e duradouro. Não é tarefa das mais simples descobrir o conjunto de causas que produzem a fragilidade do sistema e tira sua capacidade de crescer continuamente. Todavia, há algumas causas que são visíveis e fáceis de identificar. Duas dessas causas são a baixa taxa de investimento e a precária infraestrutura física.

Para crescer acima de 4% ao ano, o Brasil teria de investir 25% do PIB anual, o que, por óbvio, leva à definição de 75% como o máximo de consumo da renda nacional (o PIB é exatamente igual à renda nacional; ambos são uma identidade matemática). A economia brasileira tem sido estimulada mais pelo lado do consumo, que tem ficado em torno de 81%, restando apenas 19% como taxa de investimento anual. Nessa equação, o vilão é o setor público, pois os investimentos de municípios, estados e União não superam 2% do PIB, não permitindo ao país contar com o governo para resolver um importante pilar do crescimento, que são os investimentos.

A outra causa relevante para o PIB é a infraestrutura física. Como, no Brasil, essa área é basicamente estatal (portos, aeroportos, estradas, ferrovias, usinas de energia), o governo responde pela precariedade e pelo estrangulamento da infraestrutura física do país. A soma de baixa taxa de investimentos mais infraestrutura insuficiente e ruim é uma combinação explosiva a frear o crescimento do PIB. E baixo crescimento, aliado a um aumento de mais de 2 milhões de habitantes no ano, produz um péssimo resultado da renda per capita. O fato de, em 2012, o aumento do PIB ter ficado abaixo da taxa de aumento populacional é uma péssima notícia para o projeto de melhoria do bem-estar social.

Constatado o mau desempenho no ano passado, a atenção se volta às perspectivas para 2013. A previsão do ministro Mantega, constante do orçamento da União que está no Congresso para ser votado, é de que, neste ano, o PIB deve crescer 4,5%. O problema é que o ministro da Fazenda deixou de ser fonte confiável, tantos foram os erros de previsão cometidos por ele. Vários estudos feitos por empresas e entidades privadas apontam para um crescimento em torno de 3% em 2013 – e isso a depender da demanda internacional, já que se esgotou a elevação do crescimento puxada por expansão do consumo interno.

De longe, as três variáveis macroeconômicas mais importantes são o crescimento do PIB, a inflação e o desemprego. O Brasil precisa buscar o máximo de aumento do produto possível, pois, justamente após 2012 terminar como um ano ruim, o mês de janeiro apresenta elevada taxa de inflação e sinais de esfriamento do mercado de trabalho. Não há motivos para desespero nem pessimismo exagerado. Mas também o cenário não permite comodismo nem demagogia.

Como sempre, o governo continua transmitindo a impressão de que não tem um plano caso as coisas piorem para a economia brasileira, pois, a cada crise, o que se tem visto são medidas isoladas e incompletas.

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