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Mesmo reconhecendo que no mundo globalizado nenhum país está imune à crise financeira desencadeada há um mês nos Estados Unidos, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, voltou a afirmar que o Brasil está blindado contra problemas mais graves. A recuperação dos mercados de ações e a melhoria no índice de risco do país, durante o fechamento das bolsas no fim de semana, parecem dar razão ao titular da área econômica governamental. Outro endosso veio da elevação de nossa nota externa pela terceira agência de classificação de risco, o que aproxima o Brasil do grau de investimento.

De fato, embora a turbulência das finanças internacionais tenha sacudido firmas e economias nacionais, desta vez o Brasil sofreu menos. Enquanto em períodos anteriores qualquer incerteza acarretava uma fuga de recursos em dólar e outras moedas fortes – com a conseqüente elevação dos juros básicos e virtual estagnação das atividades internas –, agora a trepidação passa ao largo, com poucas flutuações na cotação das ações de empresas de primeira linha, mantendo-se a continuidade na entrada de divisas e principalmente nas linhas de crédito que possibilitam negócios de exportação e importação.

É forçoso reconhecer que essa inversão de sinal deriva da política monetária posta em prática nos últimos anos; sobretudo da decisão de tornar o câmbio efetivamente flutuante. Essa flexibilidade nas relações de troca financeira entre o país e o exterior facilita um ajuste quase automático dos valores, evitando a acumulação de tensões que no passado acabava forçando desvalorizações da moeda interna na esteira de crises periódicas do balanço de pagamentos. A nova diretriz gerou saldos comerciais robustos que permitiram a acumulação de um montante de reservas expressivo para nossas condições – mais de 160 bilhões de dólares.

Mas a blindagem não é completa nem poderia sê-lo, advertem especialistas como José Roberto Mendonça de Barros e o próprio presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. O primeiro vê na continuidade da crise durante o próximo ano o maior risco de contaminação de economias emergentes como o Brasil. Já o dirigente da autarquia monetária avalia que é cedo para dizer que a crise acabou; se ela se ampliar, outros países serão afetados.

O professor Nouriel Roubini, da Universidade de Nova Iorque, que se notabilizou por ter acertado previsão anterior sobre o estouro da bolha nas empresas da internet, também se mostra crítico. Em visita ao nosso país, o economista americano sustenta que "a crise visível é a da bolha imobiliária, mas aquela que conta como substancial é a do déficit geral do país, incluindo o gasto das famílias, das empresas e sobretudo do governo".

O pessimismo de Roubini não se estende a países emergentes como o Brasil, que começaram a fazer o dever de casa, acumulando superávits e reservas. Todavia, para crescer mais, nosso país precisa prosseguir nas reformas, desde a busca de eficiência no governo, a melhoria da infra-estrutura e o investimento no capital humano.

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