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Cessado o espocar dos fogos, dos brindes e cumpridas as inevitáveis (mas quase nunca realizadas) promessas de réveillon, os brasileiros caem na real do novo ano vivenciando velhos problemas. Um deles já bastante conhecido é o das chuvas que mais uma vez castigam alguns estados, provocando mortes e destruição em larga escala. A se lamentar no balanço da natureza em fúria é a constatação de que novamente prevaleceu a incúria dos administradores públicos que pouco fizeram para resolver o crônico drama das populações que vivem em áreas de risco pelo Brasil afora.

Em Nova Friburgo (RJ), o transbordamento de rios, decorrido um ano do temporal que matou 428 pessoas na cidade e outras 900 na região serrana fluminense, mostrou que o prometido plano de emergência contra calamidades ainda depende do improviso. Situação difícil também é enfrentada pelos moradores da região metropolitana de Belo Horizonte e da Zona da Mata, onde a intensidade das chuvas agravou a ameaça de alagamentos e deslizamentos de terras. Já são 109 os municípios mineiros atingidos, com 53 cidades em situação de emergência e o registro de seis pessoas mortas.

O lamentável em toda essa situação é ver que os recursos prometidos para pelo menos minimizar o drama – quase sempre insuficientes – demoram para ser liberados, isso quando não são desviados ou utilizados com objetivos meramente políticos. Foi o que ocorreu no ano passado com o prefeito de Friburgo, Demerval Barbosa Moreira Neto (PTdoB), afastado pela Justiça diante das evidências de irregularidades no uso das verbas emergenciais repassadas pelo governo federal.

Nesta semana, o jornal O Estado de S.Paulo trouxe em manchete a revelação de que o estado de Pernambuco foi beneficiado com cerca de 90% dos recursos antienchente.

A denúncia decorreu de levantamento feito pela insuspeita organização não governamental Contas Abertas, que se dedica a fiscalizar os atos do poder público. A razão de tanta atenção com Pernambuco está no fato de ser o estado natal do ministro Fernando Bezerra, da Integração Nacio­­nal, pasta que controla o orçamento para esse fim. Além disso, Bezerra é apontado como virtual candidato a disputar a prefeitura de Recife, o que também ajuda a explicar o excessivo beneplácito com os pernambucanos. A atenção do ministro com sua terra, que poderia ser uma exceção à regra, na verdade confirma uma prática já adotada anteriormente. Assim é que seu antecessor, o baiano Geddel Vieira Lima, quando respondeu pelo Ministério da Integração Nacional, também direcionou a maior parte das verbas contra calamidades para o seu estado, a Bahia.

No caso recente do ministro Fernando Bezerra, seu gesto não repercutiu bem no Palácio do Planalto, com a presidente Dilma Rousseff determinando ontem a adoção de critérios técnicos na distribuição das verbas para o combate às enchentes. Para tanto, incumbiu a ministra Gleisi Hoffmann, da Casa Civil, de convocar reunião com os técnicos do Ministério da Integração e da Defesa Civil para uma avaliação das normas adotadas até então. Uma medida oportuna tomada por Dilma, que escolada pela enxurrada (sem trocadilhos) de denúncias envolvendo ministros no ano passado, não pretende iniciar 2012 com os mesmos dissabores envolvendo assessores diretos.

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