
O ano de 2025 termina com direita se organizando para enfrentar Lula, que deve buscar a reeleição em 2026. Há muitas perguntas a responder, a começar pela estratégia: se é melhor apresentar um candidato unificado já no primeiro turno, ou deixar que o eleitorado escolha, entre várias opções, quem prefere ver enfrentando o petista em um eventual segundo turno – método que acaba de funcionar no Chile, mas apenas porque, com uma única exceção, os derrotados efetivamente apoiaram o candidato conservador que enfrentou a esquerda na votação final. Nomes para representar este eleitorado em 2026 não faltam, com vários deles lançando pré-candidaturas, seja como balão de ensaio, seja com a intenção real de disputar a Presidência.
Entre os muitos insatisfeitos com este terceiro mandato de Lula, há uma corrente que prioriza candidatos com a capacidade de gestão necessária para reverter o rumo desastroso que a economia está tomando, alguém que consiga enxergar além do curtíssimo prazo e realizar as reformas essenciais para enxugar e otimizar o gasto público. No entanto, apenas consertar a economia está longe de ser o único – e nem mesmo o principal – critério para a escolha de um bom candidato, capaz de derrotar Lula em outubro do ano que vem.
Um candidato que não esteja disposto a enfrentar a juristocracia atual, fazendo o que estiver ao alcance do Poder Executivo, não serve para disputar a preferência do eleitorado contra a esquerda
Não estamos, com isso desprezando o aspecto econômico: ainda que haja indicadores atuais positivos – como o mercado de trabalho –, dando a entender que o país vai bem economicamente, este é um filme que já vimos pouco mais de dez anos atrás. Um governo que estimula irresponsavelmente o consumo, aquecendo a economia muito mais do que ela pode suportar, colhe bons resultados de curto prazo enquanto lança as bases para uma forte recessão quando este modelo se esgotar. Foi o que vimos em 2015-16; apenas não chegamos ainda à parte da crise – invertendo o ditado, estamos vivendo a bonança que antecede a tempestade. Parar o trem desgovernado antes que descarrile é imprescindível. Mas, desta vez, ao contrário do slogan popularizado por Bill Clinton quando venceu George H.W. Bush em 1992, não se trata apenas da economia.
A prioridade nacional é o retorno à normalidade democrática. É a recuperação da liberdade de expressão, do devido processo legal e de todas as demais garantias abolidas pela juristocracia atual. Um candidato que não esteja disposto a enfrentar este problema, fazendo o que estiver ao alcance do Poder Executivo a esse respeito, não serve para disputar a preferência do eleitorado contra a esquerda. E há muito o que pode ser feito: dois ministros do Supremo, Luiz Fux e Cármen Lúcia, se aposentarão ao longo do próximo mandato e terão de ser substituídos; os instrumentos constitucionais da graça e do indulto podem ser usados para reparar as injustiças cometidas nos show trials brasileiros; um presidente com maioria parlamentar pode estimular sua base a usar ferramentas que mostrem ao país o tamanho do supremo arbítrio, como a CPI do Abuso de Autoridade. E nada disso precisa ser feito com arroubos, mas com a tranquilidade de quem sabe que tem a Constituição a seu lado.
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Sem essa disposição para restaurar a independência e harmonia entre os poderes, contendo um Judiciário hipertrofiado e abusivo, a direita pode até ganhar, mas não irá levar. As contas públicas talvez sejam colocadas novamente em ordem, mas nossa grande disfuncionalidade permanecerá intocada, brasileiros continuarão sendo calados, indo para a cadeia por crimes que não cometeram, sendo investigados por pensar ou falar algo que destoe do discurso permitido. Olhar apenas para a economia, neste momento, é uma miopia fatal para um país que onde as liberdades estão em estado bem mais crítico.



