• Carregando...

Há quem diga que o mundo se tornou menos desigual. Que há o que comemorar. Dados aceitos informam que nos anos 1990 a pobreza extrema beirava 32% da humanidade. Nos anos 2000, baixou para 16%. Paralelamente, economistas como Thomas Piketty, autor de O capital do século 21, defendem que a desigualdade atingiu o seu ápice. Nunca, na história, tão poucos concentraram tanto dinheiro, argumenta.

As duas teses não são incompatíveis. A globalização e a tecnologia trouxeram a reboque mais divisão de informação e a diminuição das distâncias. Mas é difícil defender que não estejamos numa senhora sinuca. A economia mundial se encontra em frangalhos, como bem sabe cada brasileiro. E já passa da hora de deixar a fase da constatação e partir para a ação, de modo a salvar a pele da humanidade. É pelo que seremos lembrados, se é que assim queremos.

O balcão de apostas está aberto. E nele se destacam outros pensadores que estão nos ajudando a sair da cama e reagir, em vez de esperar um milagre estatal que nos tire do buraco. O livro Juntos, do americano Richard Sennett, trata de medidas simples, relacionadas à divisão do trabalho, comunidade, cooperativismo, que outra coisa não é senão dividir espaço, dividir saber, dividir dinheiro. O homem que entende como poucos da crise em que nos metemos – resultado da troca infeliz dos valores cívicos pelos prazeres individuais – nos convoca a não querer ficar com tudo. Parece religioso, mas é sobretudo político.

Uma sociedade que não consegue manter o essencial à subsistência deve estar muito mal administrada

Outro nome de destaque neste momento, digamos, delicado, é o britânico Tony Atkinson. Sua defesa dos impostos progressivos e sua birra com o direito às grandes heranças – um dos mecanismos que ajudam sobremaneira na concentração de riqueza e, por tabela, na desigualdade, segundo ele – é feita com certo exagero, mas que pode nos levar a um meio termo, quem sabe. Ele sugere que a sociedade dê dinheiro para as crianças e os jovens, de modo que se formem em segurança e depois empreendam.

A sociedade discute o pensamento de Atkinson e discorda à vontade. Mas há algo na sua fala que é urgente: sua crença no poder da tecnologia. O que ele propõe é que se acerte o dial. Numa sociedade em crise de emprego, o empenho dos tecnólogos deve ser de garantir o trabalho para o maior número de pessoas. Do contrário, de nada vale qualquer avanço, pois não vai ajudar na convivência. Devia ser uma agenda mundial.

Em seu livro Desigualdade – o que pode ser feito?, Atkinson defende que a valorização do salário mínimo pode nos salvar da derrota. Uma sociedade que não consegue manter o essencial à subsistência deve estar muito mal administrada. Outra: política pública que se preze é aquela que busca formas de distribuição de riqueza e de conhecimento. Fala em cooperativas? Sim, faz coro com Sennett.

Melhor de tudo é que essa geração de economistas está nos fazendo um favor. Eles evitam discursos vazios. Não se comportam como se estivessem num palanque. Mostram exemplos. Informam que é possível, pois o espírito humano já pulou umas tantas fogueiras até aqui – a das pragas, a das guerras, a da intolerância –, superou a queima de livros e toda sorte de obscurantismos. Agora, tem de superar a pobreza e reduzir a desigualdade, como modo de continuar a existir. Melhor ainda – apresenta a ação comunitária como um caminho para chegar lá. O que propõem, reparem, é um antídoto contra o individualismo, essa tiririca que tomou conta de nossa paisagem. A hora de arrancá-la é agora.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]