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Curitiba figura entre as cidades que vão abrigar a Copa do Mundo. E isso não tem necessariamente a ver com futebol. Tem a ver com futuro. A depender da impressão que o campeonato deixar na capital – e que a capital deixar no campeonato – essas plagas podem se firmar no rol dos espaços urbanos capazes de atrair dinheiro e cultura, não necessariamente nessa ordem. Eis o sonho dourado da maioria dos gestores, agora ao alcance das mãos, ali pelas redondezas da Baixada. Pegar ou largar.

É comum encontrar quem faça pouco da participação curitibana no evento. Não é de se espantar. Ainda que Jane Jacobs tenha lançado o seu fabuloso Morte e vida das grandes cidades nos anos 1960, firmando a urbe o tema mais estimulante do século 20, ainda reina um olhar algo esquálido sobre o tema. Diz-se que a urbe é um organismo vivo, etcetera e tal, mas continua-se a usá-la como um gaveteiro, dividido em partes, bem a gosto do individualismo contemporâneo. Haja paciência com a ordem burguesa aplicada ao espaço urbano.

Nesses termos, a cidade – de maior invenção do homem, para repetir os dizeres de Giulio Carlo Argan – reduz-se a um arquipélago de alguns pedaços mais ou menos prósperos convivendo com muitos pedaços aos frangalhos. Fracasso na certa. Nada menos urbano do que a espera por remendos que nunca vêm. Há quem se contente com sua ilha, o que torna a conversa mais difícil e a prosperidade uma história da carochinha.

Em Curitiba, aliás, esse gosto pela cidade compartimentada vem de longe. Basta olhar para os muros que separam o Cajuru, os redutos de prosperidade do Batel, do Mossunguê e do Bigorrilho, as levas de condomínios fechados, arruinando as relações de vizinhança, para citar alguns pontos forte dessa ode municipal à artificialidade.

Tais espaços – resultados de uma prática imobiliária selvagem – em nada contribuem com o funcionamento do organismo e para que se viva a experiência do crescimento aliado ao desenvolvimento. E melhor que isso, que se prove, com todos os sabores, a aventura da cidade múltipla, diversa, sortida como um saco de jujubas coloridas.

Mas não se trata de caso perdido. Há cidades que mesmo tendo adotado o modelo muralha se redimem, reinventando-se como cidades da cultura e do espetáculo. É o caso da própria caótica – e tida como irremediável – São Paulo, metrópole que se mantém interessante, apesar do pesar de ser o que é. Seu segredo é só um: ter descoberto a que veio.

Vale o mesmo para a capital do estado. A que veio? A Copa pode responder. Assim como o Festival de Curitiba também pode. A resposta está também nas universidades, que aqui desde os anos 10 se multiplicam. E mesmo nos slogans forçados, como o de Cidade Ecológica. Ou ainda no título já perdido, o da cidade das inovações urbanísticas. Em miúdos, com o futebol batendo à porta, aproxima-se a hora de responder o que se quer daqui para frente, em que modelo se vai apostar.

Não é uma resposta que se dê com "A" mais "B". É preciso saber que no mundo todo outras cidades buscam sua vocação, inclusive as pequenas – hoje não mais à espera de uma fábrica como consolo para a insignificância. Os olhos estão voltados para quem achou seu lugar.

De um lado estão as um dia violentíssimas Bogotá e Medellín, restauradas em nomes como Enrique Peñalosa e Antanas Monkus – esse, exótico candidato à Presidência. De outro, a bem-sucedida Londres, com seu vasto equipamento de cultura – chamariz para o empresariado de todo o mundo. Some-se Barcelona, San Juan de Porto Rico e Monterey.

Claro, diante da lista, incorre-se no risco de dizer que Londres e Barcelona podem ser o que quiserem. E a fama foi para elas de fato um bom começo. Curitiba, Londrina ou Maringá, em suas modestas posições no globo, contudo, também precisam existir como laboratórios do mundo possível. Exemplos a lhes pautar não faltam. O mais nobre de todos eles é que para não ser uma entre tantas precisam manter sua escala humana. E servir de tribuna para boas ideias. Nada que não se possa resolver. Que o bom e velho futebol, no qual somos tão bons, nos sirva de inspiração para o pontapé. Que seja bem dado. O apito já soou.

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