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O preço do dólar, no Brasil, está em nível baixo há muito tempo e vem causando prejuízos às empresas exportadoras. Tendo iniciado novo ciclo em 1994, com a implantação do Plano Real, a taxa de câmbio começou, naquele ano, com um dólar valendo R$ 1. Considerando a inflação interna dos últimos 16 anos, a desvalorização do dólar no mercado internacional e os ganhos de produtividade da economia brasileira, o dólar deveria estar, no mínimo, na faixa de R$ 2,30. Esse preço pode variar conforme o estudo feito para apurá-lo, mas todas as análises sobre o tema concordam em um ponto: a R$ 1,60 a taxa de câmbio é baixíssima, não reflete a inflação interna nem a realidade do comércio exterior do país e está causando problemas para a estrutura produtiva nacional.

A pergunta repetida nos meios econômicos é: por que a taxa de câmbio está em patamar tão baixo e resiste a todas as medidas tomadas para elevá-la? O governo institui Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) de 2% sobre o ingresso de capital estrangeiro para aplicação em títulos de renda fixa e compra de ações, depois elevou para 4% e tentou outras medidas, sem sucesso. A moeda externa é negociada no mercado submetida à lei da oferta e da procura, e o excesso de oferta mantém a taxa de câmbio em níveis baixos. Entre as razões da oferta excessiva de dólares, destacam-se as elevadas reservas internacionais do país, o crescimento dos saldos positivos na balança comercial (derivado da elevação dos preços das commodities exportadas) e a entrada de capitais externos para aplicação no mercado financeiro brasileiro.

Entre os efeitos benéficos, o preço baixo do dólar contribui para conter a inflação pelo barateamento dos produtos importados, mas esse benefício não compensa o estrago nas receitas dos exportadores, que, diante de perdas, reduzem as vendas ao exterior e a produção interna. Vários empresários e analistas vêm pregando a redução na taxa de juros como instrumento para diminuir a entrada de dólares e contribuir com a recuperação do preço da moeda estrangeira. Todavia, essa medida esbarra em alguns pontos. Um, o déficit nominal do setor público. O governo precisa captar recursos para rolar sua dívida, vendendo títulos públicos para o investidor nacional e o estrangeiro. Outro, o fato de que os investidores externos aumentaram a demanda por ativos brasileiros, não sendo, portanto, apenas a taxa de juros o estimulador das suas aplicações no Brasil.

Como o problema da baixa taxa de câmbio persiste, o governo começa a soltar balões de ensaio sobre eventuais medidas para promover a elevação do preço do dólar. Nesse cenário, surge a ideia de impor controles ao ingresso de capitais externos, pela qual os recursos em dólares ingressados para aplicação em ativos financeiros ficariam no país por um período mínimo, talvez seis meses, e só depois poderiam ser devolvidos ao aplicador internacional. Essa proposta, ainda que tenha sinais de apoio do Fundo Monetário Internacional (FMI), assusta a banca internacional, pois se há algo que o dinheiro rejeita é a perda da liberdade de fluir de um país a outro, de um ativo a outro, de forma livre e sem amarras.

Que o Brasil precisa tomar alguma providência para evitar a continuação do "derretimento" da taxa de câmbio é fora de dúvida, sobretudo porque alguns competidores internacionais não jogam pelas mesmas regras de câmbio livre e flutuante, como é o caso da China. Tendo sua política cambial sob o domínio do Partido Comunista, a China mantém sua moeda desvalorizada de forma impositiva, estabelecendo, nesse campo, concorrência desleal com os países que adotam o regime de liberdade cambial, caso do Brasil. O mercado livre de divisas é um sistema considerando bom, desde que todos os atores econômicos joguem pelas mesmas regras. Se um país do porte da China resolve jogar por outra regra, impondo taxas de câmbio por decreto, o sistema acaba apresentando falhas e prejuízos para países que adotam o câmbio livre.

O dilema do governo brasileiro é descobrir uma fórmula de elevar o preço do dólar sem destruir o regime de liberdade cambial. A volta de um regime de câmbio controlado e tabelado é hipótese a ser descartada, seja porque o mundo não veria isso com bons olhos e poderia promover retaliações ao Brasil, seja porque essa fórmula já foi testada e seus defeitos são conhecidos. Já o controle da entrada de capital estrangeiro é uma ideia ruim, que pode produzir efeitos colaterais negativos sem conseguir o objetivo principal, que é a elevação da taxa de câmbio.

Não existe saída fácil. Mas o governo poderia começar com a redução do déficit público, pela contenção dos gastos de custeio, o que traria duas consequências capazes de ajudar na melhoria desse quadro. A primeira seria contribuir com a redução da taxa de juros, já que menor déficit exige menos endividamento público e, a segunda, seria aumentar a poupança interna destinada a investimentos. Embora não exista mágica em matéria de política cambial, mais cedo ou mais tarde o governo terá de agir. Tomara que não seja o controle de entrada de capital estrangeiro.

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