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O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em dezembro de 2023.
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em dezembro de 2023.| Foto: Raphael Ribeiro/Banco Central do Brasil

Como o próprio Copom já havia antecipado em sua reunião anterior, os diretores do Banco Central decidiram, na reunião encerrada na quarta-feira, cortar mais meio ponto da taxa Selic, que agora passa a ser de 10,75% ao ano. No entanto, as perspectivas de que o primeiro semestre terminasse com juros de um dígito já não são tão grandes quanto parecia tempos atrás, graças a uma mudança bastante sutil em termos de texto, mas que todo o mercado financeiro e os analistas da imprensa perceberam de imediato devido a sua enorme repercussão: se antes “os membros do comitê, unanimemente, anteveem redução de mesma magnitude nas próximas reuniões”, como dizia o comunicado de 31 de janeiro de 2024, agora afirmam que “anteveem, em se confirmando o cenário esperado, redução de mesma magnitude na próxima reunião”, trocando o plural pelo singular.

A mudança não traz certeza de que o ciclo de reduções de meio ponto seguirá apenas até a próxima reunião, marcada para 7 e 8 de maio, pois o último comunicado silencia totalmente sobre o que pode acontecer em 18 e 19 de junho. Um outro corte de 0,5 ponto não está totalmente fora de cogitação; ele só não é mais dado como certo, e dividirá as previsões do mercado financeiro com reduções de 0,25 ponto ou mesmo corte nenhum – uma aceleração do ritmo de afrouxamento monetário é extremamente improvável no momento. Tudo dependerá do comportamento da inflação e das contas públicas nos próximos três meses, e o Copom optou pela cautela, garantindo apenas o que está em um futuro mais imediato e preferindo observar os horizontes mais distantes antes de resolver como agir – uma decisão, vale dizer, que foi unânime, ou seja, teve apoio também dos diretores indicados já durante o governo Lula, o maior crítico da maneira técnica como o BC vem conduzindo o combate à inflação.

O principal risco para a inflação no Brasil continua a estar não no campo que sofre com safras menores que as de 2023, nem no setor de serviços que segue em recuperação, mas nos palácios de Brasília

Há motivos para esse cuidado todo. A inflação subjacente, que desconsidera choques temporários, se aproximava da meta no fim de janeiro, mas agora essas medidas “se situaram acima da meta”, diz o comunicado. O mercado de trabalho segue resiliente: o desemprego medido pelo IBGE no trimestre móvel encerrado em janeiro foi de 7,6%, com leve elevação de 0,2 ponto porcentual em comparação com o período de outubro a dezembro de 2023, enquanto o Novo Caged registrou saldo positivo de 180 mil vagas com carteira assinada em janeiro – são dados positivos, sem dúvida, mas uma economia ainda aquecida, mesmo em desaceleração, ainda traz consigo certas pressões inflacionárias.

O Copom ainda tem mencionado um desafio adicional para as economias emergentes: o fato de as principais economias do mundo, como os Estados Unidos e a zona do euro, ainda não terem iniciado seu processo de afrouxamento – o Japão chegou até mesmo a elevar seus juros, que voltaram ao campo positivo pela primeira vez em 17 anos. Quanto menor a diferença entre os juros de países ricos e de países emergentes, maior a tendência ao deslocamento do capital em direção às economias mais sólidas, desvalorizando o câmbio nos países em desenvolvimento, o também tem efeitos inflacionários, encarecendo os produtos importados e estimulando produtores locais a exportar em vez de direcionar sua produção ao mercado interno, reduzindo a oferta. O alento, a esse respeito, veio do Fed norte-americano, que manteve inalterados seus juros nesta semana, mas sinalizou reduções que podem somar até 0,75 ponto porcentual ao longo do segundo semestre.

No caso brasileiro, por fim, o principal risco para a inflação continua a estar não no campo que sofre com safras menores que as de 2023, nem no setor de serviços que segue em recuperação, mas nos palácios de Brasília, onde se promove uma política fiscal em completo desacordo com a política monetária. Um governo já naturalmente inclinado à gastança tem pela frente um ano eleitoral, com chefões do partido defendendo torneiras abertas para impulsionar seus candidatos, e ainda lida com quedas de popularidades, que costumam ser respondidas com gastos maiores e mais vistosos. Diante do “depende” que o Copom definiu como critério para sua decisão de junho, se alguém questionar “depende do quê?”, a resposta mais provável será que depende principalmente de Lula, do PT e do tamanho de seu apego à irresponsabilidade fiscal.

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