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A queda de Erenice Guerra, sucessora da presidenciável petista Dilma Roussef no Ministério da Casa Civil, demonstra que as irregularidades apontadas não são meras intrigas de oposicionistas plantando notícias na imprensa. É algo grave que, de início, foi, como em outros escândalos, conduzido com pouco caso pelo governo federal. Depois das denúncias publicadas pela revista Veja, no fim de semana, ontem foi a Folha de S.Paulo que publicou matéria com novas acusações contra Erenice e seus familiares. Esses dois casos levam a crer que há algo errado na Casa Civil.

As denúncias publicadas pela Folha de S.Paulo e o comportamento impulsivo de Erenice foram decisivos para que a ministra pedisse demissão. Segundo a Folha, uma empresa de Campinas confirmou a existência de um lobby operando dentro do Minis­­tério, cujo principal acusado é o filho de Ere­­nice, que cobraria dinheiro para obter libera­­ção de empréstimo do BNDES. Como se não bastasse o novo baque, Erenice parece ter trocado os pés pelas mãos ao divulgar resposta às denúncias de tráfico de influência que envolvem sua família. A nota, redigida por ela, estava cheia de ataques a José Serra e não passou pela aprovação de seus recém-designados advogados. Tais fatos, segundo interlocutores privilegiados nos bastidores, teria irritado o presidente Lula.

A situação de Erenice realmente estava se tornando bastante complicada. Resultado: ela acabou entregando sua carta de demissão com o argumento de que precisa "agora de paz e tempo para defender a mim e minha família fazendo com que a verdade prevaleça, o que se torna incompatível com a carga de trabalho que tenho a honra de desempenhar na Casa Civil". De fato, a série de acusações referentes a tráfico de influência, em qualquer país sério, deve ser suficiente para o afastamento dos denunciados. Para que as instituições sejam preservadas, é necessário que os acusados se defendam fora do cargo.

E este é o momento de o governo federal dar explicações consistentes à sociedade. O interesse eleitoral não pode estar acima das instituições, pois, até o momento, o comportamento da presidenciável Dilma Rous­­seff era atribuir as denúncias à oposição. Entretanto, Erenice era o braço direito de Dilma na Casa Civil da Presidência da Re­­pública – o mais importante dos ministérios – à época em que esta era a ministra. Mas, desde que as denúncias de que o filho de Erenice, Israel Guerra, promovia tráfico de influência no governo vieram à tona, Dilma tenta se desvencilhar do escândalo. Ela chamou as denúncias de "factoides" e de mais uma tentativa do PSDB de ganhar a eleição "no tapetão".

Mas esse discurso mudou. Ontem Dilma elogiou a atitude da ex-secretária: "Considero que a ministra Erenice tomou a atitude mais correta, porque, como o caso exige investigação, é sempre bom que se afaste para garantir que a investigação corra da melhor forma possível". E ainda ressaltou: "Não estou en­­volvida neste caso. Como estou? Onde está a prova?" Já o presidente Lula afirmou: "Quan­­do a gente está na máquina pública, não tem o direito de errar", disse. "E, se errar, a gente tem de pagar". A declaração foi dada ao Por­­tal iG, momentos antes de receber de Erenice a carta de demissão.

A declaração do presidente vai contra o recente histórico de escândalos e denúncias que envolvem o governo do petista. Exem­­plos não faltam, como o caso do mensalão, em que foi descoberto um esquema de compra de votos dos parlamentares no Congresso Nacional, para que o governo tivesse seus projetos aprovados. À época, em 2005, o presidente Lula negou ter conhecimento de tal arranjo. Já no caso da de quebra de sigilo fiscal de tucanos e da filha do candidato à Presi­­dência José Serra (PSDB), Lula preferiu transformar as vítimas em réus.

Está na hora de esse comportamento mudar. A demissão de Erenice não pode servir como cortina de fumaça para que se esqueçam as pesadas denúncias de quebra de sigilo fiscal e de tráfico de influência. É preciso que haja investigações sérias e que os acusados sejam julgados e, se considerados culpados, punidos.

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