• Carregando...

Até 2007, com algumas exceções, o mundo vinha de um longo período de prosperidade iniciada nos anos 1990, cujas marcas eram crescimento do produto bruto, inflação baixa, taxa de juros em declínio, aumento do consumo, ascensão de novas classes de renda e, principalmente, baixas taxas de desemprego. O deslocamento de parcelas do produto mundial dos países desenvolvidos para os país em desenvolvimento levou ao aumento da poupança global e possibilitou a queda da taxa de juros e da inflação. A razão é que os países em desenvolvimento têm taxa média de poupança maior do que os países desenvolvidos (elemento decisivo para baixar a taxa de juros) e menor pressão dos salários no custo de produção dos bens e serviços (elemento responsável pela baixa taxa de inflação).

O cenário econômico parecia correr muito bem até 2007, quando estourou a crise imobiliária nos Estados Unidos, cujos efeitos se espalharam rapidamente pela Europa, Japão e alguns países produtores de petróleo com forte investimento em dólar. Daí em diante, o mundo não parou de ver explodir uma crise atrás da outra. Irlanda, Espanha, Grécia, Portugal e Japão foram apenas os casos mais barulhentos de uma crise que atingiu países europeus da zona do Euro e fora dela. Os países em desenvolvimento, como Brasil, Rússia, Índia e China (os BRICs), pareciam estar à margem da crise financeira, ao ponto de muitos especialistas acreditarem que eles iriam continuar seu ritmo de consumo.

Com efeito, o consumo de alimentos, sobretudo na China, continuou alto, fato que respondeu pela elevação dos preços das commodities agrícolas e melhorou a relação de trocas em favor dos países produtores, entre eles o Brasil. Porém a extensão da crise nos Estados Unidos e na Europa mexeu com a economia mundial e só não houve uma recessão de altas proporções por causa dos trilhões de dólares lançados pelo governo americano e por governos europeus para enfrentar a crise e manter a demanda elevada. Mas esse tratamento está, agora, produzindo seus efeitos colaterais.

O excesso de dinheiro lançado no mercado, sem o correspondente aumento na produção, criou distorções capazes de provocar aumento da inflação, efeito que ocorre sempre que se criam gigantescos déficits públicos. Os déficits e a elevação dos preços das commodities (alimentos, petróleo e minérios) começaram a forçar o índice geral de preços para cima, e o mundo está diante de inflação em alta, inclusive no Brasil, fazendo já aparecer no cenário as medidas clássicas de corte dos gastos públicos e elevação da taxa de juros.

Nos Estados Unidos e na Europa, o receituário já começou. O presidente Obama acaba de anunciar um projeto para reduzir o déficit em US$ 4 trilhões nos próximos 12 anos. O Fundo Monetário Internacional (FMI) vinha alertando que, mais cedo ou mais tarde, o governo teria de fazer isso em todos os países que elevaram seus déficits públicos. A inflação é o preço da desordem econômica e tem o efeito de empobrecer a todos. O presidente Obama entendeu isso e declarou que medidas impopulares terão de ser aprovadas, das quais o mundo não sairá ileso.

Num primeiro momento, o aumento da taxa de juros e o corte nos gastos governamentais jogam a demanda para baixo, desaquecem a economia e reduzem a produção. Com isso, o desemprego aumenta e as pessoas são obrigadas a diminuir o consumo. Esse é o quadro que se avizinha nos Estados Unidos e na Europa, sendo diferente no Japão que, embora esteja em crise há muitos anos, será obrigado a elevar os gastos para a recuperação econômica depois das tragédias que atingiram o país.

O Brasil está no meio desse turbilhão e não passará ao largo dos problemas, seja por causa da inserção do País no comércio internacional, seja porque, aqui dentro, o governo tratou de estourar os gastos públicos nos últimos dois anos do governo Lula e a inflação subiu. A eventual subida dos juros internacionais encontra o Brasil com alto volume de reservas e preços das commodities elevados, o que permite ao País enfrentar o cenário externo de forma mais ou menos tranquila. Todavia, a inflação exigirá do governo Dilma medidas duras, numa fase em que precisará investir, e muito, na recuperação da infraestrutura.

Um eventual desaquecimento da economia dos Estados Unidos e de alguns países europeus não é bom para o Brasil, mas seus efeitos poderão ser amenizados caso a China e outros países asiáticos que são clientes dos exportadores brasileiros continuem com alta demanda. Desta vez, a inflação e o déficit público são problemas fabricados aqui dentro, sem que seja possível jogar a culpa no FMI ou nos problemas mundiais.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]