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A crítica à imprensa tem sido uma prática comum do presidente Lula, que não perde oportunidade nos diversos eventos públicos dos quais tem participado para dizer que a mídia brasileira não vem cumprindo seu papel. Na quarta-feira passada, o presidente da República disse que a imprensa age de "má-fé" ao deixar de divulgar ações do governo federal que considera essenciais para o país.

Não é o único a se incomodar com a imprensa a ponto de declarar publicamente suas críticas. O presidente do Senado, José Sarney, também reclamou de uma suposta disputa que a imprensa teria com o Poder Legislativo para ser o porta-voz da opinião pública. "Má-fé, ou ignorância córnea" é uma expressão recorrente do governador Roberto Requião quando se sente atacado por notícias sobre seu governo.

No mundo ideal desses homens públicos, não haveria crítica ao governo, ou ao Poder Legislativo, nem em jornais, televisão, sites de notícias, ou advindas de grupos de oposição. As manchetes destacariam o bem que fazem à nação, sem questionamentos, ou denúncias de mal uso dos recursos públicos.

A era do governo de coalizão, que não nasceu no governo Lula mas que tem sido reforçado por ele, diminuiu a força de vozes dissonantes dentro do Congresso Nacional e de partidos políticos. Por ele, busca-se uma maioria no Parlamento, com a inclusão de diversos partidos nos quadros do governo federal e com isso a aprovação de medidas provisórias e projetos de Lei de interesse do governo não apresentam muita resistência. Se não há resistência no voto, também há poucos discursos criticando o posicionamento governamental. Tal lógica também é aplicada em estados e municípios. A fraca oposição gera uma falsa impressão de consenso, que é prejudicial à democracia.

Lula reclama: "Eu levanto de manhã, vejo manchetes e fico triste. Acabei de inaugurar 2 mil casas e não sai uma nota. Cai um barraco, tem manchete". Qual a importância proporcional da inauguração de 2 mil casas em um país que apresenta déficit habitacional gigante? Ao repetir em toda a oportunidade que a imprensa não quer mostrar as boas atitudes do governo, Lula tenta diminuir o impacto que as notícias provocam. Mesmo com um discurso de democrata, não entende que um homem público precisa estar preparado para as críticas.

Quanto maior o espaço para contestação e fiscalização, maior é a preocupação com a discussão de qualquer assunto de importância para a sociedade, assim como o cuidado que um governante, ou parlamentar, terá ao tomar qualquer atitude para implementação de uma política pública, ou mesmo com a transparência de seus atos.

Da mesma forma a imprensa, quando publica, ou veicula, um problema gerado por um ato governamental, assim o faz para mostrar as deficiências, denunciar atos considerados suspeitos, mostrar o outro lado da questão ou ainda como uma política pública "vendida" como excelente esconde dados. Assim, está prestando um serviço para a sociedade e salvaguardando o seu direito de liberdade de expressão. Não é intenção primeira da imprensa ser o porta-voz da opinião pública. Se isso acontece é porque a sociedade não encontra outros canais para essa expressão, muito menos no Parlamento, no qual os representantes do povo acabam por representar seus próprios interesses, ou de pequenos grupos que o sustentam.

Se depender da população, à imprensa conti­­nuará cabendo o papel de informar com independência. De acordo com pesquisa encomendada pelo jornal o Estado de S.Paulo, publicada na metade deste mês, 91% dos entrevistados afirmam que a imprensa ajuda a combater a corrupção ao divulgar escândalos que envolvem políticos e autoridades. Nada menos que 97% dos entrevistados se declaram a favor da investigação e divulgação de casos e suspeitas de corrupção pela im­­prensa. Quando o instituto pergunta quais são os principais canais de denúncias de corrupção, jornalistas e meios de comunicação aparecem em primeiro lugar, com 50%. Para outros 37%, são os próprios políticos os que mais denunciam irregularidades de políticos.

Quando um veículo de comunicação mostra, através de um trabalho sério de investigação, uma denúncia contra grupos políticos, acaba sendo pressionado com discursos de que a notícia estaria a serviço de um outro grupo, ou com intenção de desgastar a imagem de um pretendente a um mandato. Discursos que não afetam o trabalho de veículos sérios, que defendem incansavelmente a liberdade de expressão e a livre manifestação de pensamento.

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