“Se tiver que fazer déficit, vamos ter que fazer. Senão a gente não ganha a eleição em 2024.” A frase do líder do governo na Câmara, deputado José Guimarães (PT-CE), sintetiza perfeitamente a forma como o petismo enxerga todas as instituições: como meros apêndices a serviço do partido, que pode usá-los – e ao dinheiro que eles administram – como bem entender. A fala veio em um encontro nacional do PT realizado no fim de semana para discutir estratégias para as eleições municipais do ano que vem, e a mensagem quase unânime é a de que a explosão do gasto público é essencial para turbinar as chances de vitória dos candidatos petistas em outubro de 2024.
Guimarães faz parte da ala do petismo que adotou como dogma o “gasto é vida” dilmista e defende uma revisão da meta que o próprio governo Lula determinou para cumprir em 2024: zerar o déficit primário, com uma banda de tolerância para cima ou para baixo sem risco de ter de adotar medidas de austeridade. O passe livre para a gastança é defendido também pela presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann, que no mesmo evento falou em déficit de até 2% do PIB – oficialmente, Gleisi e o deputado federal Lindbergh Farias (PT-RJ) tentaram mudar a Lei de Diretrizes Orçamentárias para contemplar um déficit de 0,5% do PIB. Mas esta batalha, ao menos por enquanto, está sendo vencida pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que trabalha pela manutenção da meta atual.
Como a solução do problema do Brasil atrapalha a solução do problema do PT, Guimarães já anunciou sua escolha: sacrifique-se o país em nome do sucesso eleitoral em 2024
“É claro que o governo Lula tem uma responsabilidade fiscal, mas temos um problema”, acrescentou Guimarães logo após defender o déficit. De fato, o partido tem um problema: quer conquistar o máximo possível de prefeituras, especialmente nas capitais estaduais e cidades importantes, para si ou para seus aliados. O Brasil também tem um problema: precisa crescer, oferecer confiança aos investidores, preservar o valor de sua moeda e evitar que a inflação escape novamente do controle, e isso só é possível com responsabilidade fiscal. Como a solução do problema do Brasil atrapalha a solução do problema do PT, Guimarães já anunciou sua escolha: sacrifique-se o país em nome do sucesso eleitoral em 2024.
Não deixa de ser curioso que declarações explícitas em defesa da gastança sejam feitas às vésperas de uma nova reunião do Conselho de Política Monetária (Copom). Nesta semana, o colegiado provavelmente aprovará uma nova redução de meio ponto porcentual na Selic, mas sempre aproveita os comunicados e atas para analisar a situação atual e explicar as condições necessárias para que a inflação se mantenha sob controle e permita que os juros continuem caindo. O Banco Central foi uma das unanimidades no encontro eleitoral do PT, pois tanto Gleisi quanto Haddad criticaram o órgão. Ignorando que foi o acerto da política monetária do BC que permitiu ao Brasil trazer a inflação para níveis menos preocupantes, Haddad afirmou que atual diretoria do BC é “durona” e “pouco arejada”.
Como em muitos outros assuntos, o que é bom para o PT é ruim para o Brasil. Para que os candidatos petistas e aliados tenham algo a mostrar a seus eleitores no ano que vem, José Guimarães e boa parte do petismo defendem que as torneiras sejam todas abertas e que o governo gaste como nunca. Mas, para isso, o Brasil terá de se endividar ainda mais, tendo de pagar juros mais altos como prêmio para quem ainda quiser emprestar dinheiro a um país perdulário, enfraquecendo sua moeda, diminuindo a confiança e afastando investimentos que geram emprego e renda. Com um país em desaceleração econômica, Lindbergh Farias ainda tem a capacidade de ir ao X (antigo Twitter) e dizer ser “inquestionável que estímulos fiscais em situações de baixo crescimento como devemos enfrentar em 2024 têm sim um papel enorme no crescimento do PIB”. Mas a gastança governamental como motor do PIB já foi testada poucos anos atrás pelo petismo, e o resultado ainda está fresco na memória dos brasileiros.
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