• Carregando...

Luiz Inácio Lula da Silva cumpre no próximo dia 1.º o seu último ato oficial como presidente da República, quando passará o cargo a sua sucessora, Dilma Rousseff.

Retirante da pobre e distante Caetés, então distrito de Garanhuns, Pernambuco, Lula foi aos 7 anos de idade mais um da leva de nordestinos a engrossar o êxodo na busca de uma nova vida no Eldorado paulista. A condição inicial de operário do setor da metalurgia foi a têmpera que forjou o combativo líder sindical que acalentava o sonho, transformado em realidade anos mais tarde, de viabilizar um partido político que representasse a classe trabalhadora, o PT. Foi uma longa caminhada até chegar à condição que poucos imaginavam possível: a Presidência da República, empreitada para a qual foi derrotado inicialmente por três vezes – uma diante de Fernando Collor e duas contra Fernando Henrique Cardoso. A vitória, afinal, sorriu no pleito de 2002 quando sobrepujou ao tucano José Serra, dando início aos oito anos da era que ora se encerra com o fim do seu segundo mandato. Ainda é bastante prematura uma avaliação mais apurada dos seus dois governos e, principalmente, do papel que Lula exerceu e continuará exercendo na política nacional e no próprio governo Dilma Rousseff, por causa da condição de líder hegemônico do PT e fiador da candidatura vitoriosa de sua sucessora.

No campo pessoal, Lula deixa a chefia da Nação com um prestígio ainda maior, em função do seu inegável carisma popular. Carisma que não se restringiu ao público interno. Também não perdeu a oportunidade de exercitar sua condição de político hábil e comunicativo no plano internacional, ainda que sejam questionáveis certos posicionamentos da política externa do país, notadamente a extrema leniência com ditaduras e governos com democracia de fachada.

Quanto aos seus oito anos de governo, um balanço preliminar aponta para avanços em algumas áreas e percalços em outras. É pertinente contabilizar como positiva a manutenção em seu governo das diretrizes econômicas do antecessor, Fernando Henrique Cardoso, inclusive com a permanência de Henrique Meirelles, na presidência do Banco Central. Embora a contragosto das facções mais à esquerda do partido, tal decisão revelou-se fundamental para a garantia da estabilidade do país, tanto interna como externamente. O país também foi beneficiado pela condição extremamente favorável do comércio internacional, o que redundou num aumento no saldo da balança comercial de forma contínua a partir de 2003. Mesmo quando as principais economias mundiais foram duramente sacudidas pelo desequilíbrio nas contas dos Estados Unidos, o Brasil conseguiu se posicionar diante das incertezas do momento econômico internacional com relativa tranquilidade. Esse cenário positivo permitiu a adoção de ações que levaram à ascensão de alguns estratos da população na pirâmide social; ampliação da oferta de empregos, acesso maior ao consumo, por conta do bom momento da economia e da transferência de renda que veio com o Bolsa Família, produziram resultados positivos que devem ser debitados a Lula.

Quanto aos percalços, a questão ética aparece como um dos grandes senões do governo que ora se despede, tamanha a enxurrada de denúncias envolvendo desde cabeças coroadas do PT a assessores diretos da sua administração. Recorde-se o escândalo do mensalão, que culminou com a cassação do todo-poderoso deputado José Dirceu, e a exoneração de Eunice Guerra, sucessora de Dilma Rousseff na Casa Civil. Esta por envolvimento com familiares em um grande esquema de favorecimentos e corrupção. Com ou sem mensalão e outros escândalos que agitaram os oito anos da administração lulo-petista, o certo é que seu titular sempre conseguiu manter invejáveis índices de popularidade, até mesmo pelo seu carisma e liderança. Lula sai do Palácio do Planalto no sábado deixando em seu lugar Dilma Rousseff, uma escolha pessoal sua. Será a vez de a criatura dar lugar ao criador.

A partir daí, uma série de indagações podem sere feitas sobre o futuro de Lula: a começar de qual será o seu comportamento consumada à descida da rampa do Palácio. Depois de umas anunciadas férias, privilégio que segundo o próprio não desfruta "há uns trinta anos", conseguirá se sujeitar ao papel de ex-presidente e de cidadão "o mais próximo da normalidade" como afirmou. Talvez uma pista sobre os pensamentos que estão a povoar a cabeça de Lula esteja numa revelação feita na última semana durante entrevista na Rede TV, quando admitiu a possibilidade de voltar a se candidatar à Presidência República. Dias depois, disse a jornalistas que Dilma é sua candidata para 2014. Porém a possibilidade de ele voltar a concorrer ao maior cargo política da Nação também foi reforçada pela informação contida na coluna política da jornalista Dora Kramer, edição de terça-feira, dia 21 de dezembro, desta Gazeta do Povo, quando menciona já ter o chefe de gabinete e futuro secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, acenado que Lula pode voltar a concorrer se a vitória do PT estiver ameaçada no próximo pleito.

Preocupação desde já não só para a combalida oposição, mas também para a própria presidente eleita Dilma Rousseff. Esta, muito embora nem tenha assumido o cargo poderá ter de conviver pelos próximos quatros anos com o espectro de seu antecessor rondando o Palácio do Planalto. É certo que uma possível volta de Lula, ainda que seja possível, a bem da verdade vai depender de uma série de fatores, a começar pelo próprio desempenho de Dilma no governo. Desde a mudança constitucional que passou a permitir a reeleição, é condição natural dos presidentes fazerem uso do direito de aspirar mais quatro anos no cargo. O mesmo é de se esperar de Dilma, principalmente se mostrar um bom desempenho a partir de 1.º de janeiro.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]